A Copa do Mundo sob os olhos de Nova York
by Zeh on June 28, 2014
Essa semana comemorei 5 anos em Nova York. Dizem que depois de 10 anos na cidade, você pode se considerar um Novaiorquino. Se for verdade, isso quer dizer que já sou meio Novaiorquino.
Uma das vantagens de ter passado 5 anos aqui é ter podido acompanhar a reação da cidade a duas copas do mundo distintas: 2010 e, agora, 2014. E a diferença é visível.
Posso dizer que na copa do mundo de 2010 a cidade estava ciente da existência do evento. Alguns bares estavam transmitindo os jogos, você via pessoas com camisetas pelas ruas, e no geral estrangeiros e imigrantes estavam bem animados com o evento. Os locais, no entanto, não ligaram muito: alguns sabiam o que estava se passando e até assistiram alguns jogos em bares ou afins, mas no geral não tinham muito interesse. Um exemplo: na final da Copa das Confederações, em 2009, quando os Estados Unidos jogaram contra o Brasil, o bar especializado em futebol onde assisti o jogo estava quase vazio, e os espectadores, bastante tímidos.
A coisa é muito diferente desta vez. Infelizmente, não possuo números, mas o contraste é palpável: a cidade está completamente tomada pelo espírito da copa do mundo. Durante o dia, todo lugar com alguma TV está transmitindo os jogos. Nas últimas semanas, assisti a jogos da copa em inúmeros bares, num circuito de corrida de cavalos, na sala de espera de um consultório médico, na lavanderia, e na cafeteria da Firstborn. Um bar perto de casa anuncia, com orgulho, que não está transmitindo os jogos da copa – dando a entender que se trata de um oásis sem futebol em meio a uma cidade que foi tomada pelo espírito futebolístico. Não surpreende que o bar esteja sempre vazio, ao mesmo tempo que a taqueria Mexicana ao lado (que está, sim, transmitindo os jogos) esteja lotada. A febre, em suma, é geral.
Esse espírito é perceptível mesmo nas ruas. Você anda pela cidade e, em dias de jogos, é impossível não ver alguém com camisetas de um ou outro time – Americanos ou não. Outro dia, andando pelo bairro, vi um casal com camisetas do Brasil. Passando por eles, percebi que eles estavam conversando em um inglês perfeito, sem sotaque: provavelmente não se tratavam de Brasileiros emigrados ou turistas, mas sim um casal de nativos que decidiu adotar o país como seu favorito. Coisa talvez impensável num país com DNA futebolístico como o Brasil, mas comum – e compreensível – aqui.
Assistir a jogos em público é uma diversão muito maior hoje do que há 4 anos atrás. Qualquer jogo qualificatório já rendeu uma audiência muito maior – e mais envolvida – do que a da final da Copa das Confederações. Um belo exemplo desta mudança de ares é a foto abaixo, tirada da cafeteria da Firstborn (que dividimos com uma empresa chamada 360i). Boa parte dos funcionários – a maioria Americanos – deslocaram-se para a cafeteria, munidos de seus laptops, para trabalhar ao mesmo tempo que assistiam ao jogo onde entre Estados Unidos e Alemanha.
Best meeting attendance @360i ever. #USA pic.twitter.com/QX22bz4D3T
— Evann Clingan (@evannclingan) June 26, 2014
Não está claro na foto, mas a cafeteria tinha 2 televisões e 2 projetores – um deles dentro de uma sala de reunião – sintonizados no jogo. Fenômenos parecidos foram observados no resto do país.
Imagino que existem vários fatores que devem ter contribuído para o aumento de interesse na copa.
Um deles é o fuso horário – os jogos da primeira fase foram transmitidos todos à tarde, em horários ótimos para se assistir nos EUA: começando ao meio dia (na costa leste) ou 9 da manhã (costa oeste). Em contrapartida, muitos dos jogos da copa de 2010 se passaram na madrugada, exigindo certo esforço por parte dos telespectores por estas bandas (e tornando o ato de assistir aos jogos em bares impraticável).
Outro grande fator, que só percebi quando apontado por um colega, é o poder da mídia social. O Twitter está tomado por fãs de futebol, e é inevitável que alguém que nem ligue muito pro evento acabe sendo inundado por tweets oriundos de amigos que levam a celebração mais a sério a cada jogo ou gol de relevância. O Twitter mesmo inaugurou recursos exclusivos para se acompanhar a copa do mundo online, e pessoalmente acho que eles acertaram a mão. Tem sido divertido acompanhar os jogos ao mesmo tempo que vejo as reações a cada lance online.
Alguns alarmistas locais são contra o crescimento de popularidade do esporte – a síndrome de ódio ao diferente é clara em certas facções conservadoras do país, e é natural que o futebol se torne mais um valor negativo em seus olhos. No entanto, o que gosto de acreditar é que, com o tempo, a audiência Norte-Americana está ficando mais consciente em relação ao esporte, e abraçando a causa com afinco. Existe uma certa barreira cultural a se vencer: o país está extremamente investido em Futebol Americano, Basquete, e Baseball, vistos como entretenimento, e tem muita dificuldade em entender os nuances e a fluência do futebol. No entanto, o entendimento está aumentando pouco a pouco, e de forma visível.
Ao mesmo tempo, a liga principal de futebol nacional (MLS) ainda tem um nível técnico péssimo, mas imagino que conforme a população torna-se consciente do esporte, a qualidade do futebol local vai aumentar. Nova York mesmo está ganhando um novo time na principal liga de futebol nacional, e o renovado Cosmos tem ganho tudo que disputa na segunda divisão nacional. Ou seja, ainda tem muito chão pra ser percorrido, mas hoje considero inevitável que no futuro os EUA se tornem uma potência no esporte. E como alguém que gosta de assistir jogos em ambientes públicos, mas não tem muita paciência pros esportes locais tradicionais, mal posso esperar.
E agora dá licença, que vou assistir o jogo Brasil e Chile de um bar especializado em linguiças.
Do amor abstrato ao pão-de-queijo
by Zeh on June 27, 2014
Viver em outra cidade, outro estado, ou outro país, é uma experiência que alimenta a alma e faz você aprender mais não só sobre o mundo mas sobre você mesmo. Por mais pequenas que sejam as diferenças, os costumes e valores de diferentes culturas nos força a questionar nossas suposições, enxergar nossas presunções, e, eu diria, compreender as coisas de forma mais ampla.
Antes de me mudar para Nova York, eu vivi a maior parte de minha vida em São Paulo. E, apesar de ter morado alguns anos em outra cidade (que detestava), e chegado a trabalhar algumas semanas no Rio de Janeiro, não é exagero dizer que eu só conhecia a vida cotidiana mesmo em São Paulo.
São Paulo é uma cidade que adoro, apesar de seus problemas conhecidos (trânsito, transporte, etc). E, talvez por ser uma cidade tão grande e considerada (de certo modo) tão rica, sempre achei que nunca precisaria conhecer nenhum outro lugar. Sempre considerei pessoas de fora de São Paulo, de certo modo, desafortunadas por não terem nascido e crescido numa cidade tão complexa e dinâmica como São Paulo (com caos e tudo o mais).
Eu hoje entendo o quanto essa visão do cotidiano é estreita. Ao mesmo tempo, imagino que isso faz parte da cultura Brasileira. Comparado a muitos outros países, não temos o costume de viajar, ou mesmo de nos mudar, digamos, de estado. Acontece, lógico, mas em muito menos frequência do que eu vejo em outros lugares do mundo. No Brasil, é comum você nascer, viver, e morrer na mesma cidade onde nasceu, ou no mesmo estado, talvez com a exceção de uma força magnética puxando gente pra certos pólos financeiros (como Rio ou São Paulo). O contrário é raro.
A primeira vez que viajei de avião foi quando eu estava com uns 22 anos, a trabalho. Sempre vi viagens de avião como algo extravagante e caro; algo que só ricos, famosos e homens de negócio poderiam se permitir.
Nos Estados Unidos em geral, a história é outra. Viagens de avião são algo extremamente comum, até mesmo necessário. Da mesma forma, se mudar para outra cidade ou estado é algo completamente natural. Pólos existem: Los Angeles, Nova York, e San Francisco são exemplos. No entanto, esses centros são muitos, quase incontáveis; não existe nada como um “eixo Rio-São Paulo”. E, ao contrário do Brasil, crescer e viver na cidade onde você nasceu é visto como algo estranho, e quase uma amostra de fracasso.
Não tenho uma experiência tão grande com outros países, obviamente, mas o mesmo parece ser verdade de lugares como o Canadá ou a Europa (nesse último, também devido a um eficiente sistema de transporte ferroviário).
Obviamente, o Brasil não é tão rico quanto muitos outros países, e isso influencia esse comportamento. Imagino também que isso está mudando aos poucos. Mas essa não é a questão. Para mim, o interessante é que só quando me mudei pra cá percebi que o resto do mundo era diferente. Quando estava no Brasil, eu simplesmente assumi que viajar ou se mudar para longe era uma coisa rara, que poucas pessoas faziam.
Muitos dos valores que assumimos como normal são também completamente alienígenas para alguém de fora. Às vezes, me pego explicando coisas completamente normais do Brasil que acabam por deixar meus amigos locais (Norte-Americanos ou não) boquiabertos.
Mudar de cultura – seja ela da sua cidade, do seu estado, do seu país – faz você questionar os valores no qual acreditou toda sua vida, e muitas vezes, entender algo de forma nova e aceitar o novo modelo. Coisas simples como o destino do papel higiênico se tornam emblemáticos das revoluções que sua mente deve processar.
Minha primeira experiência nesse sentido foi quando, em 2001, viajei para a Austrália por 10 dias (meio a trabalho, meio a prazer). Foi minha primeira experiência com uma cultura realmente diferente. Foi também um choque; voltei me sentindo um bárbaro. Precisou uma cultura como a dos Australianos (absurdamente bem-educada, comparado com qualquer outro lugar do mundo que conheci) para me fazer entender alguns pontos negativos de nossa cultura. Foi uma lição foi quase imediata, considerando que na volta para o Brasil tive de lidar com um dos típicos problemas cotidianos Brasileiros: gente furando fila no Aeroporto. Algo assim seria impensável na Austrália.
Essa primeira viagem abriu minha mente e, de certa forma, me preparou para a mudança para Nova York. Eu sabia que teria de esperar – e aceitar – muitas coisas novas, e que eu teria de revisar muitos dos meus conceitos.
Nova York é uma cidade fenomenal. Mas não é São Paulo e não é o Brasil. De certo modo, também não é Los Angeles, Seattle, Texas, e às vezes nem é Estados Unidos. Se alguém tentar chegar aqui e emular as experiências e a cultura de sua terra natal, vai se decepcionar, já que tudo vai ser diferente de formas pequenas, mas com grande impacto (curiosamente, essa diferença é a principal razão que leva muitas pessoas a detestarem, ou amarem, Nova York).
Muitas vezes, o que vemos em imigrantes é um amor à pátria de origem que se transforma num escudo contra a cultura que o cerca. É comum ver comunidades de certos países reunidos num mesmo local, não só por questões práticas mas às vezes pessoais. Costumo ir num supermercado “Brasileiro” no Queens sempre que quero comprar pão-de-queijo, e o lugar é um extrato do Brasil: no mesmo quarteirão, tem um restaurante por quilo, uma agência de viagens Brasileira (coisa bastante incomum aqui), e outros lugares reservados aos Brasileiros. Não surpreende que aquela parte do bairro seja uma mini-capital Brasileira em Nova York.
Existem todo tipo de razões para essa concentração acontecer, nenhuma delas condenável. No entanto, eu acredito que se mudar de cidade, estado ou país e tentar emular sua cultura de origem ao seu redor anula boa parte da razão para a mudança: a vivência se torna mais um exercício de evitar o desconhecido, do que entender, aceitar e passar a fazer parte do novo.
Eu gosto de ir nesse supermercado, mas não como só comida Brasileira. Tive a sorte de descobrir muitas outras coisas (comestíveis ou não) que eu não tinha nenhuma idéia de que eu adorava. Se você for gastar seu tempo procurando exclusivamente por um pão-de-queijo, nunca vai poder se deliciar com um taco ou burrito local, ou comida tailandesa (extremamente comum aqui).
Tenho colecionado inúmeros casos de mudanças de opinião que antes considerava inimagináveis. Por exemplo, na minha opinião, o melhor restaurante para carnívoros por aqui é Argentino. Às vezes nossa rivalidade faz com que ignoremos os fatos, e hoje quando falo do restaurante para amigos faço piada de que pra um Brasileiro admitir que ele gosta de um restaurante Argentino, é porque o restaurante é realmente bom. Outros restaurantes Latino-Americanos não ficam muito atrás. Os Brasileiros, em contra-partida, são no geral caros e não são lá essas coisas, usando o exótico como sua principal atração mais do que a qualidade em si. Na mesma linha, a gente gosta de falar de picanha e fazer piada de que Americano não entende de churrasco, mas a qualidade das carnes que posso comprar a 2 quarteirões de casa é absurdamente melhor do que qualquer coisa que já comi em São Paulo com preços equivalentes. Desisti rapidamente da picanha que comprava no mercado Brasileiro; aprendi a comer minhas palavras e rever minhas opiniões.
Mas ainda compro o pão-de-queijo sempre que posso.
Me sinto com sorte por poder me deliciar com comidas que nunca nem imaginei que experimentaria, quanto mais que viraria fã (novamente, pra mim, comida mexicana é o grande exemplo: como quase todo dia). Ainda posso gostar de salgar minha carne muito mais do que o padrão normal da cidade, mas não recuso as carnes locais. Não sou rico, não sou famoso, não sou celebridade, mas tampouco estou falando do cotidiano de alguém desse naipe, mas sim das pequenas delícias que fazem parte do cotidiano de quem as aceita.
Da mesma forma, um Americano (ou Inglês, ou Suíço, ou Jamaicano, ou etc), em viagem pro Brasil, deve se surpreender com coisas que consideramos normais; coisas que não são óbvias para nós, e que não aparecem em propagandas de turismo (afinal, o Brasil não é só futebol, Samba, e bundas). Nessa linha, hoje considero a resiliência do Brasileiro um de seus maiores dotes; uma de minhas teorias atuais é que daí se originam outros dos atributos positivos da cultura Brasileira. Mas acho que isso é assunto pra um artigo futuro.
Anticast: Seja designer em NY
by Zeh on February 11, 2014
O pessoal do podcast Anticast publicou há um tempo atrás uma entrevista com o Diego Miguel, designer super gente boa que trabalha comigo na Firstborn. A entrevista é bem informativa pra mostrar como é o trabalho em NY e na Firstborn, desta vez sob a perspectiva de um designer. Ouça abaixo (a entrevista começa após a abertura de 13 minutos).
Nuances de linguagens
by Zeh on January 29, 2014
A linguagem que usamos no dia-a-dia tem mais nuances do que percebemos. Às vezes, alguns desses nuances passam despercebidos para nós, com resultados interessantes.
Num artigo postado há quase 4 anos atrás, eu escrevi:
E olhando mais pro presente, tem uma expressão em inglês que acho fantástica e que acho que não tem tradução pra português. É “take for granted“. A tradução literal mais próxima seria algo como “aceito sem questionamentos”. Na prática, a expressão significa que você considera algo como óbvio, assumido, certo – que você tem certeza de que terá algo disponível quando você precisar, então o impacto da sua presença não é mais sentido.
O quanto a linguagem que usamos molda nosso modo de pensar? Imagino que o sentimento de take for granted existe independente da sua língua pátria, mas a inexistência de uma expressão equivalente em certas línguas faz com que o sentimento seja raramente discutido (vide a dificuldade que eu tive para descrevê-lo), passando em branco pelo caráter de algumas culturas. Talvez por moldar a discussão, a presença de certas expressões ou palavras acabe por moldar o comportamento.
O conceito não é novo; para citar o exemplo mais popular, no livro 1984, George Orwell propõe um governo totalitário que visava controlar o pensamento da população por mudancas progressivas na linguagem (chamada de Novilíngua ou Newspeak), fazendo com que modos de pensar discordantes dos princípios do estado fosse impossível.
A realidade do mundo moderno não é tão radical, mas ainda há quem acredite na força da linguagem como moldura do caráter.
Quando eu estava aprendendo Inglês, minha professora estava falando sobre as diferenças da linguagem em comparação ao Português. Lembro da emoção com que ela nos contou a história de um Americano que, querendo falar que sentia falta do Brasil, disse “Tenho saudades do Brasil” – com ênfase na palavra “saudade”. O ponto principal da história, para ela, era de que “saudade” não tinha tradução pro Inglês – logo, fazia o Português (ou o Brasil) um lugar mais especial, como se não se pudesse sentir saudade de outros lugares, ou se fosse impossível sentir saudades até se aprender a expressão em Português.
Levou alguns anos pra eu entender que aquilo era balela. No fundo, não é porque algumas culturas têm palavra específica pra um sentimento que ele deixa de existir em outras culturas. Além do mais, a língua Inglesa tem uma tradução perfeitamente cabível para a expressão, apesar de ser um verbo ao invés de substantivo: “I miss”.
Ainda assim, imagino que a ausência de determinadas expressões é um bom indicador do caráter de cada cultura, talvez por moldar o discurso mais do que o pensamento (até porque, quando o sentimento é comum, cria-se uma expressão adequada para tal).
O que você take for granted?
O golpe do gás
by Zeh on December 5, 2012
Nos moldes do texto sobre sites e pizzarias, encontrei mais um texto antiquíssimo, da infância da Internet comercial no Brasil e criado por falta de algo mais criativo pra se fazer. Este foi desenterrado pelo Alessandro Straccia e postado no Facebook há uns dias atrás.
Pra explicar o contexto: há mais ou menos 10 anos atrás, correntes começaram a se proliferar via e-mail, avisando contra escambos e truques perpetuados por terceiros. Obviamente, muitos desses avisos eram mitos sem fundamento, mas acabavam sendo encaminhados por amigos e conhecidos preocupados em ajudar mas sem tempo para ler as mensagens de forma mais crítica. Fenômeno tão comum que acabou dando origem a sites como o Snopes (e, infelizmente, ainda rotineiro hoje em dia).
Enfim. Em determinado momento, a quantidade de correntes que recebemos foi tamanha que decidimos criar uma corrente própria e divulgá-la, para ver se ela sobrevivia. O resultado, escrito pelo Ivan Clever e Alessandro Straccia (se bem me lembro), é um email de cautela contra o que ficou conhecido como Golpe do Gás.
Galera, cuidado. Novo golpe na praça (também conhecido como golpe do gás).
A quadrilha age da seguinte forma: primeiro você recebe uma chamada em casa. A pessoa se identifica como sendo um funcionário da companhia de gás e pede para você ir até a cozinha e acender todas as bocas do fogão simultaneamente.
Quando você faz isso, eles dizem que constataram um vazamento perigoso através da rede e informam que o conserto devera ser efetuado ate o final do dia. Para isso, o técnico ira precisar de seu cartão de banco ou de credito para limpar as obstruções na tubulação do gás.
Pedem para você deixar imediatamente o seu cartão em frente a sua casa (ou edifício) próximo a uma árvore ou arbusto ate que o serviço seja concluído, quando o cartão será devolvido.
Desavisada, a vítima não acha estranho deixar o cartão na calçada, previamente preparada; enquanto isso, esquilos treinados descem da árvore por um tubo e decoram os números do cartão de credito e gravam a assinatura no verso de uma placa cuidadosamente preparada com palha e saliva, depois lambem a tarja magnética do cartão e sutilmente o devolvem por debaixo de sua porta.
Sem saber de nada, a vítima fica feliz em receber o cartão, mas já é tarde demais.
Outros integrantes do bando, altamente treinados, ligam para sua casa identificando-se como funcionários da empresa de cartões de credito (ou do seu banco) solicitando que você passe a língua na tarja magnética de seu cartão para um teste de rotina.
Desavisada a pessoa cai em um sono profundo causado por uma enzima presente na saliva dos esquilos. Ao acordar, a vítima sente um forte gosto de peixe na boca. O gosto persiste por dias, deixando a vítima sem esperança de ter seu paladar de volta.
Através de uma mala direta, a vítima é informada sobre um novo “spray” para o hálito que esta sendo vendido pelo telefone. Sem a menor suspeita de que estão sendo enganadas e já desesperadas com o gosto de peixe que não parece diminuir, a maioria das pessoas acaba por ligar para solicitar o tal produto. É neste momento que a trapaça ocorre.
Ao receber a encomenda, a vítima rompe o lacre da embalagem libertando ácaros especialmente criados em laboratório que vão aliciar os já existentes em sua casa e instrui-los a roubar seus cigarros.
Fora de controle, a vítima procura em vão seu maço de cigarros, a essa altura já em poder dos meliantes, até decidir ir a uma loja de conveniência comprar mais. Mas “eles” já estão lá, disfarçados de frentistas do posto e balconistas. Na loja, avisam que o “ar condicionado da loja esta quebrado” e pedem a ajuda da inocente vítima para apertar uma serie de botões coloridos e luminosos enquanto um dos funcionários parece manejar ferramentas dentro do aparelho, nos fundos da loja. Completamente cega e hipnotizada, a vítima tem suas roupas amassadas e seu cabelo desarrumado. Outros integrantes do bando sujam a pessoa com chocolate e batom deixando a pessoa deitada de costas no chão da loja de conveniência.
Ao sair do transe, a vítima constata seu estado e na maioria das vezes foge desesperada deixando para trás seu dinheiro e talão de cheques.
É preciso muito cuidado. Casos semelhantes já ocorreram com deficientes visuais que receberam malas diretas em braile solicitando que a pessoa passasse os dedos na superfície de um cartão anexo, sem saber que o cartão transfere digitais novas para os dedos da vítima.
Depois, integrantes do bando roubam bancos e repartições publicas usando luvas com digitais iguais, incriminando os pobres ceguinhos. Fique atento e envie esta mensagem para todas as pessoas que puder!
Avise seus amigos!
Esportes nos Estados Unidos
by Zeh on November 16, 2012
Ontem, a convite do CEO da Firstborn, tive a honra de visitar a recém-inaugurada arena Barclays Center, um ginásio poliesportivo no Brooklyn que serve de casa para o time de basquete Brooklyn Nets. Fomos assistir ao (disputadíssimo) jogo do Nets contra o visitante Boston Celtics.
Eu já tinha ido assistir um jogo de basquete anteriormente no Madison Square Garden (Los Angeles Lakers versus New York Knicks). Esse jogo foi bem parecido, o que me fez ter certeza de uma coisa: a relação com esportes populares do público nos Estados Unidos é completamente diferente do que é visto no Brasil. Aqui, esporte é entretenimento.
Quem assiste regularmente a jogos de futebol no Brasil sabe o que esperar: o a experiência dentro de um estádio é visceral, até mesmo brutal em clássicos, e algo que só os mais sérios torcedores – daqueles que praticamente vão no estádio todo mês – conseguem suportar. Com exceção de jogos menores, ou amistosos com preços caríssimos (como jogos da seleção), não é um ambiente muito familiar.
A razão é óbvia. O futebol está enraizado na identidade do Brasileiro, e é comum alguém levar seu time de futebol mais a sério do que, sei lá, religião.
Apesar do resultado às vezes trágico (quando acontecem brigas entre torcidas), a verdade é que essa paixão louca do Brasileiro por futebol traz uma energia fenomenal para o estádio. Cantos, olas, bandeiras – tudo isso é resultado da febre sentida pelo torcedor, e amplificada em grandes grupos.
O que quero dizer é que os administradores do estádio não fazem nada além de fornecer a estrutura e dois times de futebol para jogar bola por 90 minutos. O resto, a própria torcida faz. Mas nos Estados Unidos, a coisa é um pouco diferente.
A experiência dentro do estádio de basquete Norte-Americano é bastante diferente da experiência dentro de um estádio de futebol. A torcida está ali para ser entretida, não para trazer o entretenimento.
Isso fica mais óbvio devido ao som do estádio. Os dois jogos que assiti tinham algo parecido com um comentarista – um cara que anuncia brevemente o que aconteceu na partida, nomes de jogadores que realizaram algo importante, usa alguns efeitos sonoros para ilustrar as jogadas, e toca trechos de músicas a todo momento, para trazer mais energia à torcida. Algo como um comentarista de futebol em rádios AM. Nesses jogos, é comum, por exemplo, tocar o começo da música We Will Rock You quando um dos times está fazendo pressão no adversário – a idéia, imagino, é fazer a torcida reproduzir as mesmas batidas.
Não é muito diferente de um talk show com sinais pedindo “APLAUSOS” à platéia. O resultado é algo que, pelo menos para mim, parece extremamente artificial. O comentarista e os telões do estádio constantemente indicam à platéia o que eles devem gritar, cantar, ou celebrar a cada momento. É um grande contraste a estádios no Brasil, onde a reação da torcida acontece de forma muito mais natural (e talvez, por isso, seja mais forte).
Da mesma forma, o público tem uma relação menos profunda com o jogo. Ao contrário de um jogo de futebol típico, onde o espectador da arquibancada é torcedor roxo de um ou outro time, os espectadores de um jogo de basquete não são, necessariamente, fãs de nenhum dos dois times ali presentes, ou mesmo do esporte em si. Afinal, eles estão ali para ser entretidos.
A cena que sempre me vem à memória quando penso em torcedores Brasileiros em estádios é de um cara vidrado no jogo ao mesmo tempo que segura um rádio grudado em seu ouvido, escutando o próprio jogo sendo narrado com uma emoção irreal. É alguém que está ali para ver o jogo. E de alguém iniciando um canto no momento oportuno e sendo acompanhado pelos torcedores ao seu redor.
Em jogos por aqui, o envolvimento é um pouco mais relaxado. É uma festa para amigos, com um jogo ocorrendo em paralelo. Existem fanáticos por um ou outro time, mas o envolvimento é de certa forma diferente – não existem, digamos, torcidas organizadas nos moldes do que é visto no Brasil.
Não quer dizer que um seja melhor que o outro.
Mas ajuda a explicar o porque de certos esportes fazerem mais sucesso por aqui, imagino: são esportes com um milhão de interrupções (para anunciantes, promoções e mais entretenimento) e de fácil degustação para quem não está tão envolvido com os times.
De qualquer forma, foi um ótimo jogo. O último minuto de jogo deve ter demorado uns 15 minutos no total, de tão disputado que estava a partida (a partida inteira levou quase 3 horas). Foi bom também para ver um dos primeiros jogos do Brasileiro Leandrinho pelo Boston Celtics. Uma surpresa da noite, na verdade: demorou um pouco pra cair a ficha de que o “Barbosa” que o comentarista ficava repetindo era alguém do qual eu já tinha ouvido falar.
É, finalmente, uma experiência que recomendo para quem visitar a cidade, independente da paixão pelo esporte.