Record scratch

by Zeh on October 29, 2010

Deu pau no site.

Por algum motivo, o script de upgrade acabou matando parte da instalação do blog. Aparentemente os dados (posts, comentários, etc) estão ok, mas o blog em si teve de ser reinstalado.

Na reinstalação, aproveitei pra mudar o tema do site, substituindo-o por um tema feito por outra pessoa. O anterior tinha problemas em certos browsers e resoluções, e tava meio sem tempo de ficar revisando CSS. Assim a coisa fica mais limpa e eficiente. Vou dar uma revisada mais pra frente pra traduzir o tema, no entanto.

Promessa de pão e circo, versão 2010

by Zeh on August 24, 2010

Em 3 de outubro, serão realizadas as próximas eleições gerais no Brasil para a escolha do novo presidente, governadores, senadores e deputados. Será minha primeira eleição fora do país, e admito que pouco sei sobre os atuais candidatos (pra não falar no processo de voto no exterior).

Talvez seja essa distância que me fez ficar surpreso com coisas como a candidatura de Tiririca a um posto como deputado federal, bem como suas respostas, digamos, honestas às perguntas feitas pelo repórter.

Mas quando volto no tempo e lembro da última eleição – a primeira eleição da era YouTube, quando era frequente visitar o site para ver as propagandas eleitorais mais ridículas dos candidatos a vereador – percebo que, na realidade, nada mudou: candidatos ainda buscam chamar a atenção mais do que apresentar alguma massa encefálica funcional, algum plano concreto, ou algum mínimo conhecimento do que seu país ou estado precisa.

Essa entrevista do Tiririca é um belo exemplo do que há pior em nossa política: um candidato sem plano algum, sem conhecimento algum de qualquer coisa, sendo provavelmente manipulado, vestindo um manto de boas intenções e achando que só isso faz tudo valer a pena, pensando que vai acabar com algum problema que ele nem sabe o que é através de decreto.

Às vezes, penso que é esse tipo de acontecimento que vai despertar o eleitor mais desligado; que é isso que vai fazer as pessoas acordarem e perceberem que vão ter de escolher um bom candidato, e que do jeito que está não pode continuar. Chego a pensar que a Internet e a facilidade de acesso à informação é o que vai fazer o país ir pra frente politicamente, a amadurecer e votar com consciência.

Mas é aí que me lembro de uma anedota que marcou minha vida.

Quando eu tinha uns 18 anos, como todo Brasileiro, tive de me alistar no exército Brasileiro. Fui então ao quartel mais próximo de minha casa pra começar o processo. Nessa primeira (de muitas) visitas que tive de fazer a uma guarnição do exército, fui instruído a me dirigir – junto com inúmeros outros jovens – ao pátio do quartel e lá aguardar.

Depois de algumas horas, com o pátio já repleto de jovens de 18 anos (calculo umas 500 pessoas), oficiais do exército começaram a chamar os candidatos para uma triagem inicial. Eles não chamaram por nomes; ao contrário, fizeram uma filtragem por nível de escolaridade, já que eles geralmente mandam os candidatos com maior nível escolar para o CPOR.

A primeira coisa que o oficial encarregado de chamar os candidatos fez foi chamar candidatos que faziam faculdade. Um candidato levantou a mão, e foi instruído a criar uma fila separada.

Logo após, o oficial chamou candidatos que estavam prestando vestibular. Umas 2 pessoas levantaram a mão, e foram instruídas a se juntarem à nova fila.

Em seguida, o oficial chamou os candidatos que tinham concluído o segundo grau (meu caso). Cerca de 6 pessoas levantaram a mão, e foram também instruídas a se juntarem à nova fila.

O oficial então chamou os candidatos que estavam no último ano do segundo grau, instruindo-os a se juntarem à fila, e assim sucessivamente, até que a fila – ordenada pelo nível escolar do candidato – estava com um bom tamanho. O oficial parou de chamar novos recrutas após pedir candidatos com a quinta série do primário concluída.

75% dos candidatos ainda estava no pátio, esperando ser chamado. Todos haviam parado de estudar na quarta série, ou inferior.

Cercados pelo nosso mundo de computadores, celulares, Twitter, Facebook e o escambal, é fácil pra gente esquecer de uma coisa: o Brasil não é um país que prima pela igualdade social. Existe um enorme contraste em como a população vive, e no nível educacional de cada cidadão, mesmo em São Paulo. O voto é obrigatório para todos, mas um décimo da população não sabe ler ou escrever, e aproximadamente 60% sequer tem acesso à Internet. E eu achando que todo mundo iria usar algum bom guia de candidatos disponível e um pouco de pesquisa no Google pra escolher o melhor candidato. Ledo engano.

O resultado disso é que, quando chega uma eleição, não tem muito o que fazer. Não é mandando spam ou fazendo post em blog que a coisa vai ser sanada ou que as pessoas vão resolver votar com consciência. A grande maioria da população vai decidir em quem votar baseado em quem faz a propaganda mais engraçada na TV, ou em quem faz mais propaganda (ilegal) no dia da eleição – e esse é todo o acesso que eles terão aos políticos.

O primeiro problema do Brasil não é a política, não é a economia. É a educação. Fruto da influência cultural, de problemas gerados há décadas atrás, das capitanias hereditárias, da escravidão, ou de qualquer outro fator, já não importa; o problema está aqui e não vai embora sozinho. E enquanto isso não for arrumado, vamos continuar elegendo imbecis só porque eles são conhecidos ou personagens que chamam a atenção, gente que mente no currículo e fica impune, ou qualquer outro que rouba mas faz.

Vou votar como fiz antes: escolhendo meu candidato – usando o Google e outros guias – e deixando o nome e o número anotado pra checar depois se ele ou ela fez um bom serviço. Mas já deixei de esperar que a maioria da população faça o mesmo.

Outros se fazem de palhaço, mas quem leva a torta na cara é a gente.

Sei que você não vai ler isso, mas parabéns, Brasil. A merda só tá ficando mais profunda.

Duas medidas diferentes

by Zeh on May 6, 2010

Antes de me mudar para Nova York, diversos amigos e amigas anunciaram de antemão que me visitariam quando enfim eu me mudasse. Assim, quando finalmente me mudei (pra um apartamento provisório a princípio) e estava procurando um apartamento final na cidade, fiz questão de procurar apartamentos de dois quartos. A razão era uma só: ter um espaço pros amigos que fossem visitar.

Foi o que acabei fazendo; meu apartamento atual tem dois quartos, sendo que o maior (de “visitas”) é até maior que meu próprio quarto. Comprei duas camas pra esse quarto, até.

O experimento acabou ocorrendo como o esperado e tive a visita prolongada de diversos amigos e conhecidos até hoje (além de vários outras já agendadas pro futuro). Então, como não estou escrevendo muito aqui no blog esses dias, queria postar dois links que são exatamente de pessoas que estão me visitando nesse momento.

O primeiro é o blog Porra New York!, do Lucas Motta. O Lucas é um desenvolvedor Flash Brasileiro que foi recentemente contratado pela mesma empresa em que eu trabalho (Firstborn), e o site tem registros fotográficos e textuais de suas peripécias na cidade. E como eu sei que é um parto alguém se mudar do Brasil pra cá (além de ser uma bica), estou hospedando ele temporariamente enquanto ele procura apartamento (e aguarda o Rafael Rinaldi, que é outro desenvolvedor Flash Brasileiro que foi contratado pela Firstborn).

Outra pessoa que está visitando temporariamente é a Camila Chaves, com quem trabalhei na Grafikonstruct há alguns anos atrás. Ela está aqui só a turismo, mas se divertindo com a programação da primavera da cidade. O legal é que ela comprou uma câmera nova logo após chegar na cidade, e tem postado os vídeos feito com seus olhos de turista em sua página no Vimeo.

Ambos valem a visita, para os leitores que querem ver Nova York por outros olhos.

Finalmente, uma coisa interessante de notar devido a ter alugado um apartamento com dois quartos é que este é um conceito completamente alienígena pras pessoas da cidade. Sempre que conto pra alguém que moro numa casa com dois quartos, recebo olhares estupefatos como resposta; as pessoas assumem que ou eu sou louco, ou muito rico (pelo menos o segundo sei que não sou). Faz certo sentido, considerando-se que o fato de ter dois quartos (e mais espaço) aumenta o aluguel de um apartamento, mas algo que justifica o investimento sob meu ponto de vista (poder hospedar amigos) é algo que não é tão facilmente digerido pela cultura local. Por conta disso, hoje em dia, dificilmente digo para alguém que moro num apartamento de dois quartos; explicar as razões para isso já se tornou cansativo.

De certo modo, no entanto, mudei um pouco de idéia – 9 meses desse experimento me fizeram mudar de opinião. A verdade é que além de ser mais caro, ter um quarto a mais implica em mais espaço para limpar num apartamento, e mais espaço desperdiçado (se você não estiver hospedando ninguém). No final das contas, vale mais a pena pegar um apartamento só de um quarto, mas com mais espaço para os cômodos normais, pelo mesmo preço – amigos sempre podem ficar hospedados na sala, já que visitas geralmente são temporárias.

Meu próximo apartamento – devo me mudar em agosto, que é quando vence meu contrato atual – só terá um quarto.

Mudança de estações

by Zeh on March 20, 2010

Hoje é o dia do equinócio vernal no hemisfério norte, marcando o início da Primavera na terra imperial. E só agora que já estou em Nova York há um certo tempo – quase 9 meses – é que começa a ficar clara pra mim a real diferença entre o clima daqui e o do Brasil.

Mais do que mais frio, mais quente, mais úmido ou qualquer outra comparação similar, aqui o clima tem mais contraste do que eu esperava. É algo óbvio quando você para pra pensar, mas algo com que eu nunca tive de conviver antes: as mudanças de estações são mais sensíveis.

O verão é ensolarado – boa parte do dia é mais clara e, obviamente, mais quente. No outono, você vê as folhas das árvores amarelando e caindo, e o clima começa a esfriar. No inverno, as árvores são só galhos pelados, a neve toma conta das ruas, o frio força transeuntes a ir de um ponto a outro sem parar no meio do caminho, os parques ficam vazios, e o sol dura bem menos tempo no céu. E agora, na primavera, o calor está voltando.

Em São Paulo, essa diferença nunca existiu, pelo menos dessa mesma forma. Existe, sim, uma diferença na temperatura média da cidade, mas ao mesmo tempo, é comum você ter dias de calor extremo no inverno, ou frio congelante no verão. Da mesma forma, mudanças na natureza são difíceis de perceber (fenômeno provavelmente fortalecido pela bolha criada pelo concreto que cobre a superfície da cidade e pela extensa massa cinzenta que cobre o céu), algo que acaba sendo um belo retrato da nulidade das estações no cotidiano do cidadão.

Já em Nova York, é difícil deixar de viver em função da estação do ano. As mudanças se refletem no comportamento das pessoas e de toda a malha urbana de uma forma tal que é impossível você manter uma mesma rotina, ou uma mesmo estado de espírito, durante o ano todo.

Com a primavera começando, e alguns dias de calor despontando – agora são aproximadamente 20° C em Manhattan – isso fica especialmente fácil de notar na atitude das pessoas. É como se o sol despertasse algo que estava adormecido: você vê muito mais bicicletas nas ruas; os parques começam a lotar de pessoas que só querem gastar um tempo no sol; você vê muito mais turistas; qualquer queda de temperatura adicional é motivo pra alguém sair de chinelo e bermuda/saia; bares e restaurantes colocam suas mesas de volta nas calçadas, e as portas duplas (usadas pra bloquear o vento frio) são removidas dos mesmo estabelecimentos.

Mas, acima de tudo, os ânimos ficam muito mais positivos. É impossível não encontrar alguém no dia como de hoje e comentar o quão legal o clima está. E não é só um papo vago qualquer na falta de algum assunto mais profundo; é porque todo mundo está com o clima na cabeça. Pra comparar, a primeira coisa que checo quando acordo é a previsão do tempo no meu celular.

Esse contraste criado entre as estações deixa clara também uma parte da atitude do cidadão comum e, suspeito, da rotina de qualquer outra cidade no mundo onde o clima tem uma variação real: as pessoas estão mais preparadas para os altos e baixos de sua rotina anual, ao invés de simplesmente esperando uma uma rotina estável e sem muita variação. É uma coisa difícil de explicar, mas que percebo na minha própria atitude. De certo modo, passado o deslumbramento inicial com a neve, o inverno foi bem ruim por aqui pra mim – fica chato de sair, tem muito vento, tá muito frio, você tem de estar todo encapotado pra fazer qualquer coisa tipo ir no supermercado comprar cerveja; mas, ao mesmo tempo, saber que o inverno vai acabar logo e que um verão delicioso se aproxima faz tudo valer a pena e faz qualquer clima fácil de suportar. Seja qual for a sua estação preferida (muitos amigos meus aqui preferem o outono), você sempre sabe que ela chegará em breve, e você simplesmente se prepara pra isso.

Me lembro que, em São Paulo, era extremamente raro eu acordar e ser surpreendido positivamente pelo clima, ou de ter minha disposição muito influenciada pela temperatura. O clima simplesmente não afetava meu dia. Aqui em Nova York, o contrário acontece frequentemente, e o efeito no meu dia é visível – é muito difícil não deixar de se sentir extremamente otimista num dia como hoje. São só 20 graus, algo que qualquer um em São Paulo ou outra cidade do Brasil consideraria um dia normal (ou, talvez, até um pouco frio). Mas não é a temperatura absoluta que faz a diferença; é a relativa, e sentir uma mudança pra melhor. Impossível não se deixar levar.

Estado imperial de espírito

by Zeh on January 11, 2010

Sabe aquelas épocas em que você sempre ouve a mesma música tocando na rua, ou em pontos comerciais (tipo lojas) – geralmente alguma música pop que aparentemente foi lançada no momento certo? Então.

Nos últimos meses, absolutamente todo lugar que entro aqui em Nova York tá tocando a mesma música – Empire State of Mind, por Jay-Z e Alicia Keys. Engraçado que eu já tava extremamente irritado com a faixa, apesar de nem saber do que se tratava, simplesmente porque ela acaba tocando em todo lugar.

Esses dias, numa festa, já na segunda execução da faixa, finalmente parei pra ouvir a letra pra ver do que se trata. Aí ficou fácil de sacar porque a música ficou tão popular: ao contrário dos raps normais que são encontrados por aqui, a letra é razoavelmente positiva e, mais importante, glorifica a própria cidade. E tenho de admitir: o vocal da Alicia Keys realmente faz a música, e a letra é muito superpracimex. Só pra citar o refrão:

New York
Concrete jungle where dreams are made of,
There’s nothing you can’t do,
Now you’re in New York
These streets will make you feel brand new,
the lights will inspire you,
Let’s hear it for New York, New York, New York

Triste ver que dificilmente encontramos algo sobre nossas próprias cidades. Sabe aquela coisa de ouvir a letra e se identificar um pouco pelo entorno? Então. Faz falta. Pelo menos algo que vira um hino de verdade como é o caso desta música, ou, ainda, outra que é um pouquinho mais conhecida.

Mas, só pra não passar batido – pelo menos temos “São Paulo”, do 365, na versão mais famosa do Inocentes.

Frio e garoa na escuridão é o que São Paulo é pra mim mesmo. Pena que, hoje, a coisa tá mais pra pânico mesmo.

Que falta faz uma boa banda com identificação local.

Histórias para bois e outros seres dormirem

by Zeh on December 30, 2009

Pra quem não percebeu pelos últimos posts, ou não leu o que escrevi antes, gosto muito de escrever histórias. Sempre foi a área em que me dei melhor na escola.

Uma das razões principais de eu ter criado este blog foi exatamente pra ter a oportunidade de poder escrever histórias e artigos em português sem ter de me preocupar muito com o conteúdo, ou com o que as pessoas iriam achar – afinal, é um blog feito pra ter conteúdo pessoal mesmo, então não tenho que me preocupar com alguém acessando o site do outro lado do mundo pra tirar uma dúvida de ActionScript e acabar se deparando com uma história estranha sobre gaivotas, velhos homens anônimos, ou outros seres parecidos.

Escrever histórias do tipo das que gosto de escrever acaba sendo um exercício de criatividade imenso. Acho que é por isso que gosto de escrevê-las. Pode não parecer, mas pra mim, as histórias que conto não são aquela coisa de escrever uma experiência anterior disfarçada de ficção só pra poupar os envolvidos: nunca estou falando de mim ou de algo que aconteceu e quero botar pra fora, mas sim tentando fazer uma metáfora de lições de vida (tão pretensioso como isso possa soar) ou só situações interessantes/irônicas que imaginei.

Por uma feliz coincidência (ou não), há um tempo atrás comecei a sair com uma garota que quase todo dia me pedia pra contar uma história pra ela antes de dormir – ao vivo, ou via instant messenger. Cheguei a ler histórias de livros de fábulas (ótimo pra praticar o inglês por sinal), mas o que me dava mais prazer era bolar alguma história na hora.

É por isso que muitas das histórias que escrevo aqui são baseadas em contos ou argumentos trazidos de outras histórias, como contos chineses. O que eu fazia era procurar alguma história rapidamente, ler mais ou menos a premissa básica, e começar re-contar a história com modificações próprias, inventando alguma história diferente no decorrer do processo. Às vezes, só um personagem ou uma frase já serviam de ponto de partida. Pra se ter uma noção, uma das histórias mais tristes que contei usava uma frase da letra da música de abertura do desenho Sawamu, o Demolidor como ponto de partida (a parte que fala dos insetos dos charcos). E quando paro pra pensar, muitas das histórias que eu escrevia quando era mais novo se baseavam na mesma receita: eu assistia alguma propaganda de filme, imaginava do que se tratava o filme, e escrevia uma redação com a história, ou só baseada num personagem específico (e depois, quando eu ia ver o filme, ele geralmente não tinha nada a ver com o que eu tinha escrito).

O relacionamento no final das contas não durou muito tempo, e acabou como a maioria dos meus contos acabam – sem um final feliz. Mas as histórias ficaram; salvas no histórico do MSN, escritas rapidamente num arquivo txt qualquer, ou até mesmo anotadas com pressa num post-it, tenho uma série de histórias prontas para serem traduzidas ou reescritas em português.

Mas, mais importante, ficou acesa a chama da escrita. Não só nas histórias já elaboradas que estão esperando pra serem postadas, mas nas idéias que ainda estão surgindo a todo momento, uma vez que a prática do exercício de imaginação foi relembrado.

Enfim, tudo isso pra dizer, não se surpreendam se a partir de agora eu postar mais histórias estranhas aqui do que outra coisa. Minha cabeça anda coçando.