O que há num simples nome

by Zeh on November 15, 2011

Aqui em Nova York, eu tenho uma dificuldade imensa em lembrar nomes. Acabo confundindo nomes de pessoas, trocando o nome de alguém por algum nome completamente diferente, ou simplesmente esquecendo-os completamente.

Nunca vi nenhum material acadêmico a respeito, mas a minha teoria pessoal é de que gravamos nomes através de sílabas, de forma sonora, lembrando a sequência fonética do nome de cada pessoa ao invés de como o nome é escrito. E como, em português, estamos acostumados com um conjunto mais ou menos uniforme de sílabas – alfabeto silábico que é usado pra composição de nomes é meio limitado – esse método de recordação acaba vindo abaixo quando as sílabas a serem lembradas são mais incomuns.

É algo estranho de descrever, mas na prática, é como se certos nomes simplesmente não gravassem na minha mente. Como resultado, desde que cheguei aqui, passei por várias situações lamentáveis de esquecer nomes, confundir sílabas, ou trocar nomes por completo.

Imagino que, com o tempo, vou construir novos modelos de recordação baseado nas sílabas mais típicas localmente. Mas, enquanto isso, pra lembrar certos nomes, acabo sendo obrigado a criar uma narrativa mental que me permite reconstruir a palavra baseado em certos parâmetros. Pra mim, um dos nomes mais difíceis de lembrar, por exemplo, é Camiel, nome de um colega de trabalho de origem Holandesa. Simplesmente não consigo me recordar do nome imediatamente; acabo lembrando que o nome dele é parecido com o nome da minha irmã (Camila), mas com as duas letras no final trocadas, e, a partir daí, lembrando o nome real. A parte ruim é que acabo gastando um tempo nesse processo, então às vezes acabo gastando segundos lembrando o nome de alguém.

No entanto, ontem, andando pelas ruas de volta a meu apartamento no final de um dia de trabalho, percebi uma coisa curiosa: consigo me lembrar dos nomes das ruas de forma muito mais fácil por aqui do que conseguia no Brasil. Sei o nome de todas as ruas ao redor do meu apartamento, de várias ao redor do edifício onde trabalho, e o nome de inúmeras ruas na cidade; em contrapartida, em São Paulo, eu sabia o nome de poucas vias, e mal lembrava as ruas que faziam esquina com a rua onde eu morava. O meu mapa mental de uma região era tão rico quanto aqui, mas eu simplesmente não sabia o nome das ruas.

Pensando um pouco no assunto, acho que existem duas razões pra isso. A primeira, e mais óbvia, é que muitas das ruas e avenidas são numeradas, então é mais fácil se lembrar de um simples número e construir um modelo mental que permite a você identificar a ordem das ruas, principalmente nas regiões da cidade baseadas no grid típico local; como eu moro entre a South 2nd e South 3rd no Brooklyn, por exemplo, sei que a rua ao sul é South 4th, ao norte South 1st, e por aí vai.

A segunda, igualmente importante, é que os nome das ruas são mais curtos; é extremamente raro as ruas ou avenidas usarem nomes compostos. Pode parecer bobagem, mas nomes como Driggs, Bedford, Walker,  ou Canal, são muito mais fáceis de serem lembrados do que Paes de Barros, Irmã Carolina, Engenheiro Dagoberto Gasgow, ou outros nomes comuns no Brasil.

E, aqui, percebo um detalhe interessante: apesar dos nomes usarem as mesmas sílabas que me criam problemas na hora de lembrar nomes, eu consigo me lembrar dos nomes de ruas facilmente porque me lembro das placas das ruas. Ao invés de sonoro, é um modelo de recordação baseado em padrões visuais, o que faz com que a lembrança seja mais fácil. Só percebi isso ontem, pensando no assunto enquanto andava: sempre que preciso me lembrar do nome de uma rua, lembro de como a placa da rua se parece, com fundo verde e tudo mais.

Imagino que essa dificuldade em lembrar nomes mais longos é provavelmente a razão pelo qual é comum usar um nome mais curto quando nos referimos a certas vias em São Paulo.

Um dia, sentado num ônibus, esperando a minha parada, alguém me perguntou se aquele ônibus passava na Brigadeiro. Eu disse que sim, que era no próximo ponto (o ônibus se aproximava da Brigadeiro Luis Antônio). A pessoa desceu, contente. Meia hora depois, quanto o ônibus passou pela Brigadeiro Faria Lima, engoli em seco e me indaguei se a pessoa tinha descido no ponto certo.

Halloween em Nova York

by Zeh on October 29, 2011

Não acredito que não postei sobre isso ainda, mas: em Nova York, o Halloween (celebrado no final de outubro) é coisa séria.

Existem vários costumes locais ligados à data. Diferentemente de outras partes do país, não é tão comum ver as crianças saindo pra visitar casas pedindo gostosuras ou travessuras (trick-or-treating, no dialeto local), mas outras características típicas da festa são bem fortes por aqui.

Uma delas é o costume de sair por aí vestindo alguma fantasia. Assim, nessa época do ano, apesar do frio, é bem comum ver pessoas andando fantasiadas na rua (a caminho de alguma festa, ou mesmo indo pro trabalho durante a semana), culminando com o desfile de rua no dia 31 de outubro (quando é normal ver praticamente todo mundo fantasiado na cidade).

As primeiras vezes que me deparei com a festa local foram surpreendentes. É algo esquisito, mágico e divertido ver a cidade tomada por caracteres dos mais diversos tipos. É uma festa realmente popular e algo que me lembra muito as convenções de RPG ou Anime que costumava ir em São Paulo, mas numa escala muito maior. Também me fantasiei nas edições passadas da festa, indo inclusive trabalhar fantasiado (ou semi-fantasiado) no dia anterior à festa.

Ao contrário dos 2 últimos anos, este ano não tenho nenhuma festa planejada. No entanto, tive um gostinho desse aspecto do Halloween quinta-feira passada, quando alguém na empresa onde trabalho teve a idéia de fazer todo mundo se vestir como um dos diretores de nossa empresa. Veja o resultado abaixo, com o original e suas cópias:

Não estou na foto acima, mas tirei a (horrenda) foto abaixo. Peço que me desculpem.

No mesmo dia, tivemos um concurso de fantasias no escritório. Pra quem considera a cultura Norte-Americana mais austera, existe algo de surpreendente em ver pessoas andando fantasiadas pelo escritório como se nada demais estivesse acontecendo.

O segundo aspecto do Halloween que é bem comum por aqui é o costume de fazer gravuras em abóboras. Você basicamente remove o interior da abóbora, faz desenhos na superfície com uma faca, e acende uma vela dentro do leguminoso.

Eu nunca havia feito um desses antes, mas desta vez, graças a um presente de meus amigos Don e Mike, eu e a Meagan tínhamos duas abóboras pra talhar.

Depois da abóbora ser aberta e limpa, o próximo é a escolha do desenho a ser escavado na abóbora (geralmente, algum tipo de face). Talvez não muito sabiamente, escolhi o desenho abaixo, o famoso troll face:

O problema é a quantidade de detalhes que o desenho exige, e o fato de que ele tem de ser feito com buracos na abóbora – ou seja, ele não pode ter itens vazados.

De qualquer forma, o próximo passo foi transferir o desenho (om hidrocor) do computador pra abóbora, e cortar as laterais do legume com uma faca afiada (da forma mais fiel possível).

O resultado final deve ser apreciado no escuro; abaixo, o produto final da minha abóbora e da Meagan.

O normal, após entalhar as abóboras, é deixá-las do lado de fora de casa, normalmente decorando a entrada de sua casa ou prédio. No nosso caso, escolhemos deixá-las dentro de casa mesmo, como decoração temporária, já que elas não vão durar muito tempo.

Foi um processo bastante divertido e algo que espero repetir todo ano – mas, da próxima vez, provavelmente com algo que requer menos linhas e que possa brilhar mais.

Neve logo cedo

by Zeh on October 29, 2011

Começou a nevar em Nova York, dois meses antes do esperado, surpreendendo muita gente.

Ontem eu já tinha visto avisos de que poderíamos ter neve este final-de-semana e não tinha acreditado, já que a neve costuma só chegar aqui mais pro final de dezembro (além dos weather advisories terem a tendência de fazer qualquer coisa soar como o fim do mundo). Culpa da instabilidade climática trazida pelo aquecimento global? Vai saber.

A surpresa de ver a neve caindo neste terceiro inverno que passo aqui me fez lembrar a primeira vez que vi a neve caindo. Lembro que, na época, eu acordava todo dia e abria a janela pra checar se neve tinha caído durante a noite – afinal, estava ansiosamente esperando meu primeiro contato com neve.

A primeira neve só acabou acontecendo no final de dezembro quando, saindo do trabalho às 4 da tarde, e andando por Manhattan, vi o que parecia uma poeira caindo do céu. Demorou um tempo até eu entender que aquilo era neve. Turistas sorriam e tiravam fotos ao meu redor, surpresos. E isso pode soar babaca, mas foi um momento bastante emocionante pra mim (influência de filmes de Hollywood que retratam inverno em Nova York, aposto).

Acabou nevando pra cacete e cobrindo a cidade de neve durante a noite.

Imagino que esta neve que estamos vendo aqui hoje é o que é chamado de flurry – uma neve de verdade, mas que, devido à temperatura, acaba não se acumulando muito. O clima aqui já está frio, mas a temperatura ainda está acima dos 0 graus celsius, então a tendência é a neve derreter assim que chega no chão.

Ainda assim, a quantidade de neve que está caindo é bem grande; só está nevando há aproximadamente uma hora, e a rua parece estar passando por uma nevasca típica de dezembro.

É uma situação interessante; é como se eu não me lembrasse mais o que é ter de trafegar pela neve em Nova York, já que a última vez que tive de fazê-lo foi há quase um ano atrás. Hoje moro mais longe do metrô (uns 10 minutos de caminhada; ano passado, era só uns 2 minutos) então o inverno vai ter um impacto maior na minha rotina desta vez. E por mais estranho que isso possa soar, mal posso esperar; gosto das mudanças de estações.

Los Angeles Galaxy vs New York Red Bulls

by Zeh on October 5, 2011

Ontem fui assistir um jogo da Major League Soccer – o campeonato nacional daqui – entre o LA Galaxy de David Beckham e o Red Bulls de Thierry Henry e Rafa Marquez. O jogo foi no Red Bull Arena, em Nova Jersey.

Red Bull Arena

Apesar do time do Red Bulls ser de Nova York, o estádio deles fica em outro estado – em Nova Jersey. Ainda assim, chegar lá é relativamente fácil – 20 minutos de Manhattan, via trem. Sair é outra história; levei 2 horas pra voltar, devido à superlotação do trem e a problemas em uma das linhas.

De qualquer forma, fiquei impressionado com a qualidade do estádio. Apesar de ser relativamente pequeno – cabem 25000 pessoas sentadas – é um estádio de primeira em todos os sentidos. A grama tem tamanha qualidade e é tão uniforme que, à distância, achei que era gramado sintético. Até a cerveja do estádio é ótima.

O que deixou um pouco a desejar, no entanto, foi o futebol.

Esse jogo tinha tudo pra ser um clássico, já que é um jogo entre dois dos maiores times do país – times estes com várias estrelas internacionais, trazidas do futebol europeu.

O resultado, no entando, foi um jogo truncado, onde os jogadores pareciam mais preocupados com passar a bola pra algum colega do que efetivamente marcar um gol. Eu provavelmente sou suspeito pra falar, mas a impressão que deu é que era aquela típica diferença do jogador Sulamericano com o Europeu – enquanto o Sulamericano usa da garra pra resolver a jogada, o Europeu (ou, neste caso, Norte-Americano) quer resolver na base dos fundamentos técnicos com passes, jogadas treinadas à exaustão e erros do adversário. Vira um jogo de deixa-que-eu-deixo onde ninguém dribla e todo mundo tem medo de chutar pro gol. Não me surpreende que tenham tantos jogadores ingleses nos times da MLS.

O pragmatismo e a eficiência típicos da cultura local não funcionam tão bem dentro do campo. O futebol local está chegando lá, mas a impressão que eu tenho é que ainda faltam fominhas pra resolver a parada.

O papel higiênico e você

by Zeh on September 29, 2011

Acabei de ver esta genial foto de autoria desconhecida sendo compartilhada no Facebook pelo Fernando Bueno:

Ela me fez lembrar de uma coisa importante: em Nova York, diferentemente do Brasil, jogar o papel higiênico usado no vaso sanitário é obrigatório, e imagino que seja assim também no resto dos Estados Unidos.

É uma daquelas coisas esquisitas de se comparar porque tem a ver com costumes enraizados na cultura local: alguém no Brasil pode dizer que é óbvio que o papel tem de ser jogado no lixo e não na privada, afinal, a privada pode ser entupida pelo papel; mas por aqui, alguém diria que é óbvio que o papel deve ser jogado na privada, já que ele é feito pra dissolver na água (encher o saco de lixo com papel higiênico usado é visto como algo extremamente nojento).

Durante toda a minha vida, sempre que via um aviso parecido com o da foto acima, eu imaginava que quem jogava papel higiênico na privada deveria ser maluco. Então foi um certo choque no começo até eu entender que, por aqui, o costume local é, sim, jogar o papel usado descarga abaixo; banheiros público (como em empresas ou restaurantes) não costumam nem ter lata de lixo do lado da privada.

Mas qual é o correto?

Jogar na privada é mais saudável e provavelmente melhor para o meio-ambiente, mas a verdade é que a possibilidade de jogar papel higiênico na privada (ou não) depende mais do encanamento de esgoto do que outra coisa.

Imagino que hoje muitos sistemas de encanamento no Brasil não teriam tanto problema com o papel higiênico. Ele deve se dissolver na água do mesmo jeito. Mas, por uma questão cultural e talvez histórica, entendo porque todo mundo ainda considera a prática um tabu, e duvido que isso mude em breve.

Mas, quando estiverem por aqui, lembrem-se: lugar de papel higiênico é na privada (mas o papel higiênico: papel toalha causa entupimento facilmente).

Mochila Binária em Nova York

by Zeh on September 27, 2011

Momento jabá pessoal: há umas semanas atrás, a equipe do Mochila Binária veio pra NY pra visitar a cidade. Acabei vendo eles e contribuindo pra uma conversa que virou posts no site e uma entrevista em duas partes, onde falo um pouco sobre a Firstborn, NY e meu trabalho como desenvolvedor em geral.

Meus agradecimentos à toda equipe do site (especialmente à Ludmilla e ao Mauricio) pela honra de ser entrevistado por eles!