Dicas de viagem: dinheiros

by Zeh on July 17, 2009

Conversando com um amigo meu agora há pouco comecei a me lembrar de tudo que aprendi nas primeiras semanas de adaptação ao dinheiro de brinquedo avançado sistema monetário Norte-Americano, então seguem algumas dicas aleatórias para viagens ao exterior (talvez em especial pros Estados Unidos, que é o que minha experiência me permite reportar).

Obviamente, antes de viajar, é recomendável você já sair com uma grana na moeda do local para onde você está se dirigindo (geralmente trocada localmente numa casa de câmbio qualquer, tipo as de shopping).

Quando você for trocar o dinheiro na casa de câmbio, é bem melhor pegar notas em valores mais baixos. Isso é uma coisa do qual eu não me dei conta e que me deu certa dor-de-cabeça. No caso dos dólares, notas de US$ 100 são foda. Na verdade elas até são bem aceitas sem muitos problemas por humanos, mas a treta é que muitas das máquinas que aceitam pagamento em dinheiro (coisa bem comum aqui, em especial para compra de bilhetes de metrô) só aceitam notas de até US$ 50. Então, se não quiser ter problemas, peça umas notas de US$ 50, $20, ou $10 durante a troca.

Saiba também que, caso você seja um milionário e a quantia sendo levada para fora do Brasil (seja a espécie que for) passe de R$ 10,000.00, você tem de declará-la através de um formulário.

Caso você não queira levar muito dinheiro com você (o que foi o meu caso) mas ainda assim precise de uma quantida considerável (o que também foi o meu caso, já que teria de pagar aluguel e o escambal), ou mesmo se você quiser mais segurança pra andar pra cima e pra baixo sem uma bolada debaixo do chapéu, uma boa é pegar um Visa Travel Money. Esse cartão é como um cartão de crédito/banco/débito pré-pago que você faz, coloca uma grana nele, e aí pode fazer saques em moeda local ao redor do mundo em caixas específicos. Você também pode usar o cartão pra fazer pagamentos em alguns cantos, como cartão de crédito (apesar de que não cheguei a usar pra isso). Finalmente, você pode consultar o saldo online e tal. É um treco realmente prático. Esse cartão você também faz em casas de câmbio e outros cantos em São Paulo mesmo, e não tem de declarar nada (a própria casa de câmbio que reporta a operação pra Receita Federal como via de regra, então se você quiser evadir divisas, esta não é uma boa forma).

No meu caso, o que eu fiz foi viajar com uma grana em mãos só pra segurança, e colocar um valor legal no Visa Travel Money, aí sacava quando precisava. Fiz ambos a operação de câmbio e o cartão na Action.

Sacar dinheiro (pelo menos em Nova York) é bem fácil. À primeira vista os caixas (“ATMs”) podem assustar – eles são em sua maioria bem toscos, montados na calçada mesmo, ou dentro dos pontos mais esdrúxulos do mundo, como metrô, pizzaria, farmácia, vendinha, papelaria, banca de jornal e afins. Do tipo que se fosse no Brasil, metade seria roubado durante a madrugada. Mas eles até que funcionam bem (e muitos têm atendimento sonoro, pra cegos, coisa que no Brasil acho que é bem recente).

ATM por Divwerf

Pra saques do Visa Travel Money, você precisa usar um caixa da rede “Visa Plus”, que é bem frequente aqui em NY. E embora não exista limite pra saques do cartão em si, cada caixa tem um limite diferente. Já vi caixas com limite que iam de US$ 100 a US$ 800. Quando tive de fazer um saque pro pagamento do aluguel do meu apartamento provisório, por exemplo, tive de sacar US$ 2400 (aluguel, mais depósito de segurança) em três saques seguidos, no mesmo caixa. Me senti um criminoso utilizando cartão roubado.

Pra quem reclama de caixas que dão notas de valor alto no Brasil (sempre que eu queria dinheiro, costumava sacar algum valor super quebrado, tipo R$ 48, só pra poder pegar dinheiro trocado), aqui os caixas parecem só despejar notas de US$ 20 pra baixo. Alguns limitam a US$ 10. Inclusive quando não é conveniente. Como falei, tive de sacar US$ 2400 de uma vez só – saí dos caixas quase um gangster, dado o bolo de dinheiro que tive de carregar em notas de US$ 20. Fora o ato de pagar o aluguel com isso depois, parecia venda de drogas.

Uma última coisa engraçada de ATMs é que você pode fazer saques de sua conta de bancos Brasileiros em alguns caixas, utilizando seu cartão do banco. É uma coisa bizarra e completamente aleatória (você nunca vai saber o quê funciona e onde), mas é uma outra alternativa. Eu não fazia a mínima idéia que isso rolava – achei que teria de usar agências locais do meu Banco pra isso – mas a gerente do meu banco local (Chase) me deu um toque, aí fui no ATM do Chase mesmo e fiz um saque direto da minha conta do Real, de São Paulo. Bem conveniente. Mas o problema é que como qualquer coisa em banco Brasileiro, acaba caindo num limite aleatório, arbitrário e desconhecido qualquer – meu limite de saques, por exemplo, é algo em torno de US$ 400 por dia, apesar da conta ter saldo suficiente. Por isso, e pela aleatoriedade do suporte à operação, não recomendo confiar muito.

E finalmente, moedas. Como toda o resto da infinita gama de países que conheço além do Brasil (ou seja, Austrália), aqui na terra do Information Society tudo se resolve na base da moeda. As muitas máquinas que o cidadão comum tem de usar durante o dia aceitam moedas (algumas moedas), e existem máquinas pra trocar dinheiro por moedas (vital em lugares como lavanderia).

E aqui tem uma coisa bizarra: ninguém reclama na hora de te dar o troco. Você paga algo de US$ 1.48 com uma nota de US$ 20 e o cara te dá US$ 18.52 de troco. Sem titubear. Com uma porrada de moedas. Tanto que realmente enche o saco. Já não sei onde colocar mais moedas. Minha carteira tá prestes a estourar, isso porque sempre desovo as moedas na estante quando chego em casa pra não ter de ficar carregando-as pra cima e pra baixo. Às vezes despejo todas elas na máquina do metrô, pra carregá-las no saldo do meu MetroCard, mas não sei o que fazer com as de US$ 0.01, já que a máquina não parece aceitar. Fico me sentindo um Tio Patinhas do subúrbio.

Tio Patinhas

Então, se você estiver vindo pra essas terras, lembre-se de trazer uma bolsa para as moedas.

E vale lembrar, elas nem fazem muito sentido, já que não têm o valor direto gravado – então você que tem de saber que um “nickel” é US$ 0.05, um “dime” é US$ 0.10, e por aí vai. Avançado demais.

Best friend

by Zeh on July 16, 2009

Best friend

Não sabia o que esperar. Para onde estariam indo? Que solo estranho era esse? Que estrutura tão incomum era aquela onde se encontravam? O que estavam fazendo, parados, em pé? Esperando algo, talvez – mas o quê? E o que eram os barulhos que ecoavam de vez em quando pelos túneis, como urros de monstros subterrâneos invisíveis que faziam tremer o solo?

Estaria sendo levado para algum lugar de onde jamais voltaria? Seria esse o começo do fim da única amizade real que já teve na vida? Ou seria só um novo tipo de passeio? Afinal, o que se passava na mente daquele que lhe carregava?

Apesar das muitas dúvidas, aguardava e confiava.

Foto e título por Juliana Mundim

Ode ao soldado de bolso

by Zeh on July 14, 2009

Talvez eu não tenha deixado muito claro, mas toda a minha adaptação à nova cidade após a mudança teve a ajuda de um elemento importantíssimo. Peça-chave de qualquer tarefa que tenho de realizar em solo imperial, ele está sempre lá, me ajudando sem reclamar.

Falo do meu telefone celular.

T-Mobile G1

O telefone que comprei aqui é o HTC Dream, vendido em solo local como T-Mobile G1. Apesar de ter falado um pouco desse fone antes, acho que ele merece um post próprio.

Esse era um fone no qual eu já estava interessado há um tempo por dois motivos. O primeiro é por saber do que o celular é capaz, já que existe uma caralhada de aplicativos disponíveis pra ele (e vale lembrar, aplicativos que não têm de lidar com censura prévia, ao contrário do que a Apple faz com o iPhone). O segundo é a abertura do sistema operacional (Android), que permite que você desenvolva aplicativos e extenda funcionalidade do sistema operacional sem muita dor-de-cabeça (de novo, especialmente em comparação a sistemas mais restritos, como o do iPhone). Eu já tinha brincado com desenvolvimento pra ele através do emulador e estava com vontade de tentar algo mais real.

Comprar o celular foi a primeira coisa que tentei fazer logo quando pisei em Manhattan, recém-chegado do aeroporto. Não consegui (pois já passava das 7 da noite e as lojas já estavam fechadas), mas no dia seguinte, após pagar os olhos da cara (já que eu não possuía credit score, fui obrigado a comprar o fone pelo preço total, sem subsídio através de contrato), era o feliz dono de um G1.

Fica difícil explicar o quanto ele ajudou, então seguem alguns exemplos do meu uso do celular por aqui.

O uso mais óbvio é pra mapas através do Google Maps, já que boa parte do software do G1 é criado pelo Google e o aparelho possui GPS. O vídeo abaixo é meio forçado e usa uma versão antiga do aplicativo, mas mostra bem os recursos disponíveis.

Com a facilidade dos mapas, é comum eu sair andando a esmo pela cidade sem me preocupar onde estou – isso porque, quando quiser, posso me localizar facilmente. Se um dia minha bateria acabar do nada, não vou saber voltar.

Na mesma onda dos mapas, o G1 também possui o editor de mapas My Maps, que permite que você acesse seus mapas criados no Google Maps e edite-os da forma como desejar, criando novos pontos onde quiser, ou só consultando os pontos salvos anteriormente. Ou seja, igualzinho ao editor do site (utilizando o mesmo banco de dados), só que no celular.

My Maps

Um último nessa categoria que me saiu super útil é o My Tracks. Ele permite a você gravar sua localização constantemente, criando assim um percurso que pode ser então salvo de diversas formas diferentes – incluindo dentro do Google Maps.

Pra se ter uma idéia da praticidade da coisa toda: há cerca de duas semanas, eu comprei uma bicicleta. Passei boa parte da semana passada andando de bike pelo Brooklyn, em parte porque realmente é muito fácil de andar de bicicleta por aqui (mais sobre isso no futuro) e em parte porque queria dar uma volta pelos bairros sugeridos por amigos e colegas pra decidir onde eu procuraria apartamentos para alugar em definitivo.

Conforme eu andava de bike, eu gravava meu trajeto pelo My Tracks. O intuito era não só me lembrar por onde passei, mas também saber quantos km andei, por quanto tempo, velocidade médias e máximas, etc.

Meu trajeto todo foi salvo no Google Maps. A imagem abaixo mostra 3 dias diferentes intercalados, totalizando uns 40km de percurso.

Bike Rides

Além disso, sempre que eu chegava num ponto digno de nota, criava um novo marcador no Google My Maps com anotações e com uma foto da rua tirada na hora (não mostrados na imagem acima), pra me ajudar a lembrar da localização.

Outra utilização muito prática do celular é localizar um ponto comercial específico – tudo através do Places Directory, um aplicativo que ajuda a localizar lojas, restaurantes, bares e afins disponíveis ao seu redor. O aplicativo conta com informações e reviews sobre cada ponto, além da distância e de mapas e compassos indicando como chegar ao lugar.

Places Directory

Acabo usando esse aplicativo diversas vezes por dia. Esse aplicativo já me ajudou em diferentes momentos de uma forma incrível. Pra citar alguns: em determinado momento, andando por Manhattan, me deparei com um restaurante que anunciava ser de comida Brasileira. Como era uma quarta-feira, me perguntei se valeria ir a pena tentar entrar no lugar e pedir uma feijosada. Saquei o celular, procurei o restaurante no aplicativo (facilmente encontrado, já que ele estava bem na minha frente), e li os reviews disponíveis, trazidos de outros websites. As opiniões eram tão negativas que me fizeram mudar de idéia e trocar o paio hipotético por um sanduíche do Subway mesmo.

Outro exemplo é mais curioso. Um dia, voltando do trabalho, andando pelo bairro onde estou morando provisoriamente, me perguntei se havia algum supermercado por perto. Novamente, saquei o celular, procurei por “supermarket”, e encontrei um… a cerca de 40 metros atrás do ponto onde eu estava. Super perto, mas eu provavelmente teria demorado muito até perceber o supermercado por acaso.

E tudo isso sem contar os aplicativos sociais, que fizeram muita gente estranhar que eu estivesse respondendo mensagens e emails na rua: Meebo pra Android que me permite ficar lendo MSN e Google Talk enquanto ando (agora, quando alguém ver meu status como “On Mobile”, já sabe do que se trata); TwitterRide pra perder tempo no Twitter; Email embutido; etc.

Já muitos outros aplicativos pequenos/simples me ajuda bastante no dia-a-dia. O compasso, pra saber pra que lado eu tenho de ir quando estou num lugar desconhecido; o mapa do metrô de NY; jogos pra passar o tempo; etc.

Ou seja, o celular tem sido uma ajuda absurda na minha adaptação à cidade. Não só porque eu posso procurar qualquer informação na Internet mais rapidamente com ele, mas devido à gama de aplicativos pra facilitar a vida que ele tem. E nada disso é forçado; eu ainda me permito tentar um monte de coisas diferentes e sair aleatoriamente sem ficar verificando onde estou a cada 10 metros, e sem medo de experimentar algo novo. O bom é que o celular acaba poupando tempo e saliva quando preciso de alguma informação, ao invés de ser ser o condutor direto dos meus pés.

Eu amei até mesmo o teclado do aparelho, que eu originalmente achei que seria um porre de usar, e já não vivo sem ele. O G1 até tem teclado na tela estilo o iPhone; não uso nunca.

A verdade é, eu não consigo sequer imaginar como teria sido minha vida de transeunte estrangeiro em NY até agora sem o negócio. Eu cheguei na cidade com uma dúzia de papéis impressos, com mapas e informações pra poder me localizar onde quer que estivesse; mas, após ter adquirido o fone, pude me desfazer de tudo. Agora tenho tudo e mais um pouco à mão – ou instalado no celular, ou disponível online.

Isso porque ainda nem usei coisas como Wikitude (mais voltado pra turismo) e Shop Savvy (mais voltado pra compras).

Se já me sinto numa rotina sem muitas surpresas (às vezes, sério mesmo, dá impressão de que já vivo aqui há décadas, e já devo ter ajudado uma dúzia de pessoas na rua) é porque o celular fez com que a adaptação fosse a mais fácil possível. Talvez seja uma coisa que nem percebamos no Brasil, uma vez que não temos tanta informação online sobre comércios e tal (e fora que conexão G3 nem é tão difundida assim), mas depois de utilizar o celular por um tempo, fica fácil de perceber como dispositivos móveis estão prontos a revolucionar a computação móvel – eles estão solucionando problemas que mal entendíamos, e fazendo isso de forma fenomenal, super prática, e invisível.

Não quer dizer que o G1 seja algo de outro mundo; não levem por esse lado. Embora eu tenha amado o aparelho, provavelmente tudo citado aqui pode ser realizado através de um iPhone, Palm Pre, Blackberry e outros. A questão não é o modelo, mas a plataforma, e o contexto onde ela se insere. Pra mim é meio foda mostrar o quanto fico deslumbrado porque afinal trabalho com tecnologia e já sabia do que a plataforma era capaz, mas acho que o contraste de rotinas proporcionado por essa minha mudança é que me permitiu que eu absorvesse esse choque tecno-cultural em sua plenitude.

Smartphones são foda.

Pequenas coisas

by Zeh on July 10, 2009

Se mudar pra um apartamento novo (ainda que temporário) é também perceber a falta que coisas pequenas fazem. Algo que eu sabia (até porque quanto tinha me mudado de volta pra São Paulo há 15 anos atrás eu tinha sentido a mesma coisa), mas aqui é amplificado já que é uma cidade e país novos sem muitos conhecidos ou parentes ao redor; não tem a quem recorrer quando falta alguma coisa.

É perceber que você tem de tomar banho e não tem esponja ou bucha, e não fazer a menor idéia de onde encontrar isso, aí ser obrigado a tomar banho um dia só com o sabonete mesmo. Explico: aqui as categorias de lojas são meio diferentes, então é difícil saber onde ir quando você precisa de algo. Acabei encontrando uma bucha legal numa loja que é um misto de mercadinho, farmácia, e loja de cosméticos. Você acha batom do lado do doritos e da cerveja. Nada incomum por aqui.

É também perceber que os pacotes de produtos de consumo aqui são oferecidos de forma diferente. Você não tem pacotes médios; só pequenos ou gigantes. Fui comprar band-aid – outra coisa que você só percebe que faz falta quando é tarde demais – e só pude comprar um mini-pacotinho com 8 unidades. Mesma coisa pra cotonetes: é um pacotinho que cabe no bolso. Já sucos, você só acha em embalagens de 2 litros pra cima.

É se dar conta que a variação também irrita um pouco. Comprimido pra dor-de-cabeça? Tem de 200 tipos diferentes. Uma mesma marca vai ter uma dúzia de categorias – pro dia, pra noite, pra tarde ensolarada, pra manhã de ressaca, pra homens às 3 horas da tarde quando você está assistindo TV e seu peso é um número par e seu sobrenome começa com a letra “D”. Coisas assim. Só pensar em qual você precisa pra uma dor-de-cabeça típica já amplifica a dor. Só quero paracetamol puro ou o equivalente, obrigado.

Eu atualmente tenho uma lista de coisas simples que preciso comprar. É a lista mais aleatória do mundo. Bloco de papel pra anotações. Caneta. Papel vegetal pro microondas. Abajur. Cabo USB extra pra ligar o celular no computador. Um carregador pro meu celular antigo (esqueci no Brasil, duh). Catchup. Lanterna. Chaveiro. Rádio-relógio. Mais toalhas de banho. Tesoura. Algum cesto pra pôr a roupa suja. Suportes para coisas no chuveiro. Panela pra esquentar água. Isso porque já comprei alguns dos itens mais fundamentais.

Sempre que passo em alguma loja mais esquisita, entro pra ver se tem algum item da lista. Aí também é comum perceber que tinha algo lá que eu precisava, mas que não tinha me dado conta ou adicionado à minha lista ainda. Foi assim com cortador de unha e com adaptador de tomada – achei ambos, sem querer, no primeiro dia, numa loja onde só entrei pra tirar xerox. Ainda bem; precisava cortar a unha e precisava do adaptador de tomada pra poder fazer a barba com meu barbeador antigo. Um viva para a aleatoriedade, me fazendo parecer menos com um ser da caverna.

Nem todas as pequenas coisas você pode comprar, no entanto. E essas podem, da mesma forma, fazer uma falta descomunal.

Soccer time

by Zeh on July 1, 2009

Domingo passado fui assistir à final da Copa das Confederações no Murphy & Gonzalez, um bar de Nova York que tenta ser uma mistura do pub Irlandês típico com um restaurante de comida latina. Sincrético.

Eles tinham anunciado que estariam com o jogo ao vivo e um amigo gringo me convidou pra gente ir lá assistir já que não tínhamos nada melhor pra fazer. Aceitei na hora.

TV

Ao contrário de muitos bares que passam jogos ao vivo como no Brasil, lá eles não tinham um grande telão, mas sim várias TVs passando o mesmo jogo. Pelo que vi, é algo comum por aqui – várias vezes me deparei com bares com diversas TVs de tela plana passando baseball (por alguma razão, o único esporte que vi).

A audiência estava razoavelmente atenta aos eventos que estavam pra se desenrolar, mas bem controlada. Não tinha visto nenhum brasileiro no bar a princípio, apesar de ter percebido que parte do pessoal que atendia os clientes falava português.

A coisa mudou um pouco quando os Estados Unidos começaram a dominar o time Brasileiro, fazendo 2×0 no jogo. O pessoal começou a torcer bastante e acreditar que dava pra ganhar, reagindo a cada novo lance perigoso.

Happy people

Eu na verdade estava bem neutro na partida. Seria legal que o Brasil ganhasse pra reafirmar a qualidade da ginga Brasileira, mas perder seria interessante porque iria acordar o time e fazê-los entender que não é com futebolzinho xoxo que se ganha uma pra copa do mundo – um sacrifício em prol de um bem maior. Mas em certo momento, vendo a garra dos jogadores Norte-Americanos e a apatia da seleção de camiseta amarela, até comecei a esperar que os Estados Unidos vencessem (ou, pelo menos, considerar que a vitória seria justíssima).

Mudei de opinião quando o gol legítimo do Brasil foi anulado, aí a chama da justiça falou mais alto e comecei a torcer pro Brasil de novo.

Sad people

Acho que até mesmo os torcedores gringos perceberam a névoa negativa que estava rondando seu time, em especial após os seguidos replays do gol anulado. No bar, a torcida local ficou sem reação, e os primeiros brasileiros se fizeram ouvir com uivos de “caralho” e “porra”. E na comemoração dos gols que se seguiram.

Foi uma experiência bacana ver como os locais reagiram ao evento, mas tudo acabou como começou: sem muito drama. Quando estava saindo do bar, logo após o jogo ter terminado, não dava pra dizer que nada de diferente tinha acabado de acontecer ali. Famílias e amigos comiam felizes, alheios aos suspiros de alívio do Dunga.

Estranho em terra estranha

by Zeh on June 27, 2009

Quinta-feira passada me mudei para Nova York, para finalmente trabalhar no escritório da Firstborn, empresa pra quem já trabalho remotamente há quase 2 anos.

Mudar de cidade, país, língua, e cultura não é uma coisa tão simples assim, no entanto, e embora eu não tenha tido nenhuma surpresa absurda, acho que seria legal falar aqui como foi o primeiro contato, já que nunca tinha estado nesta cidade antes (ou neste país).

O surreal de chegar numa cidade como Nova York, pelo menos pra um brasileiro, é que nos deparamos com muitas coisas que são novas, ao mesmo tempo que já são conhecidas através de filmes e séries – pessoas, lugares, etc. É uma experiência bem esquisita.

Nesse sentido, talvez uma das maiores surpresas que eu tenha tido é ver que muitos dos esterótipos que a gente vê na mídia são realmente encontrados aqui. Sabe aquela coisa do “cara branco bem vestido mas racista”, “suburbano gangsta que se veste como Tupac”, “garota suburbana que fala muito rápido e muito alto e não leva desaforo pra casa”, “redneck que não gosta de ninguém”, “indiano com inglês engessado”, “garotinha mimada que fala muito oh my god“? Então.

Não falo isso de forma negativa, no entanto. Todo lugar tem suas figuras e suas personalidades – positivas ou negativas – e imagino que no Brasil não seja diferente.

A chegada foi super tranquila, apesar das 9 horas de vôo. Infelizmente o aeroporto onde desembarquei – JFK – não tinha wi-fi gratuito, ao contrário do que eu esperava. Menos um ponto para o grande centro social-tecnológico do mundo.

Peguei o trem para sair do aeroporto e para fazer a baldeação pro metrô (linha A). Já me fodi logo de cara: precisava comprar um MetroCard pra fazer a baldeação, que custava $7. A compra era feita através de máquinas que aceitavam notas de $5 até $50. O detalhe é que eu só tinha uma nota de $5 e uma caralhada de notas de $100. It doesn’t feel good to be a gangsta.

Quem me salvou foi um indiano que era dono de uma vendinha de balas do lado da catraca (e que também vendia metrocards) e que pode trocar a nota de $100. Os indianos com quem me deparei são um capítulo a parte aliás – eles não só estão em todo lugar mesmo, como era o esperado, mas são super gente boa e pacientes. Esse cara foi amigão mesmo, me mostrando como usar o negócio e pra onde ir.

O metrô de Nova York é aquilo que muita gente sabe: por estar na cidade inteira, por ser muito antigo, e por ser 24 horas, ele é meio sujão. Não tem uma identidade única (ou quase única), como é o caso de São Paulo. As estações lembram muito as estações de trem de São Paulo, pela estrutura e pelo nível de limpeza. Os trens são um misto do metrô de São Paulo e dos trens – funcionam, e são relativamente limpos, mas bem antigos.

Fui de metrô até Manhattan, onde faria a baldeação pra pegar o trem que me levaria até o Hoboken, em New Jersey (onde mora um amigo meu que me deixou passar uns dias no apartamento dele enquanto eu não achava apartamento). Aproveitei pra dar uma volta por Manhattan para ver o lugar e pra tentar comprar um telefone.

Obviamente que já tinha visto fotos e filmagens de Manhattan, então sabia mais ou menos o que esperar, mas estar no nível da rua te dá uma visão meio diferente. Manhattan é mais parecido com São Paulo do que eu esperava. É tipo uma São Paulo que funciona. Acho que é um misto de Rio de Janeiro – as pessoas parecem estar mais à vontade – e São Paulo – muita gente, muita muvuca, muitos carros, pedestres não ligam pro semáforo se já der pra atravessar a rua, etc. Ao mesmo tempo, nada parece super corporativo, que era o que eu esperava. Você anda por vários lugares que, pra um paulistano como eu, dão a impressão de que você está num bairro bem residencial. Se bem que não fui pra lower Manhattan – fiquei só no meio do lugar.

As lojas, em sua grande maioria, são lojas que dão impressão de serem comércio de família, não mais uma filial de uma grande rede. Existem redes sim – Starbucks, MacDonalds (muito menos do que eu esperava), etc – mas no geral as fachadas são mais convidativas. Difícil explicar. E tem todo tipo de loja e restaurante mesmo, dá um ar mais colorido ao lugar.

Tem muito imigrante e estrangeiro sim na cidade. Alguém me disse que 30% da população da cidade é de estrangeiros. A impressão é de que são muito mais. É comum ver gente passando e ouví-las falando línguas irreconhecíveis. Propaganda em diversas línguas é também comum, bem como instruções em espanhol no metrô e afins. No metrô vi uma propaganda numa língua que também não reconheci, e gosto de acreditar que conheço bastante sobre caracteres dos mais diferentes alfabetos.

Não consegui achar nenhuma loja da T-Mobile aberta pra comprar o fone que eu queria e fui embora, pegando o trenzão pra New Jersey, já destruído de tanto andar com minha mochila e minha mala de tralhas.

Chegando na casa do meu amigo tive outra surpresa que explica bem um pouco da cidade: ele não estava em casa. Toquei a campainha e ninguém respondia. Não tinha podido avisar a ele que horas eu chegaria, já que não pude usar o wifi do aeroporto, e já eram umas 10 horas. Sem telefone pra poder ligar pra ele e descobrir onde ele estava, o que fazer?

Existia uma loja de conveniências ao lado, onde entrei pra perguntar se eles conheciam algum telefone público nos arredores. Não conheciam. Os vendedores – indianos, e também super gente boa – se ofereceram pra ligar pro meu amigo. Era um pessoal, digamos, descontraído. O diálogo que tive com o dono da loja – menos sério do que parece – foi mais ou menos assim:

What are you, German?
No, I’m from Brazil.
I don’t like men from Brazil.
You don’t?
Yeah. I only like Brazilian Women.
Well, me too.

Infelizmente, meu amigo não atendia o telefone, então teria de esperar.

Aí tive uma idéia. Sentei na calçada e abri o laptop. Existia a remota chance de que alguém tivesse uma rede aberta que me permitisse usar a Internet pra mandar uma mensagem pro cara (já que ele recebe mensagem do MSN no telefone).

Em São Paulo, onde eu morava (Belénzinho), existiam umas 3 ou 4 redes wifi ao meu redor, nenhuma aberta. Mas esperava que aqui a coisa fosse diferente. Procurei as redes e, pra minha surpresa, achei dezenas de redes wifi disponíveis. Uma meia dúzia delas, abertas. Conectei em uma que parecia ser da loja de conveniências ao lado, mandei uma mensagem pro cara, e 10 minutos depois ele chegava pra abrir o apartamento.

Mesmo no Hoboken, que é um lugar mais longe – já que é fora de Nova York, sendo até mesmo outro estado – ninguém achou estranho um cara sentado na rua usando um laptop. Ninguém tentou me roubar ou pedir dinheiro.

E essa é outra coisa estranha da região no geral, e algo que ficou mais claro quando saímos do apartamento do cara pra dar uma volta pelo bairro durante a noite (de bermuda e chinelo, porque tá calor): o lugar passa uma sensação de segurança. Você vê carros imensos e caros estacionados na rua sem a menor preocupação. E não são muitos, mas a maioria. E mesmo num lugar onde carro não é estritamente necessário, a galera gosta de carro grande.

Já na sexta feira fui finalmente trabalhar. Peguei um ônibus que em 25 minutos me deixou a 2 quarteirões do trabalho. Pra um Paulistano, chegar em Nova York é quase como ir pra uma cidade do interior – parece que é tudo muito mais perto.

Isso é um reflexo de como a cidade se desenvolveu. Apesar de houverem graves erros cometidos no passado, em Nova York no geral o desenvolvimento urbano sempre foi muito voltado pros cidadãos, não para os carros. é muito mais fácil se deslocar através de transporte coletivo, e muito fácil ir a pé de um lugar a outro, ao invés de ser como São Paulo, onde o carro reina supremo.

No trabalho não fiz muita coisa além de finalmente conhecer a galera com quem já falava há anos, começar a configurar o computador, essas coisas.

E finalmente comprei o telefone que eu queria na hora do almoço. Foi quando ficou claro também que a presença de estrangeiros é realmente forte na cidade. A loja onde fui – do lado do trampo – tinha dois vendedores, e ambos falavam espanhol além do inglês. E realmente atenderam várias pessoas em espanhol. O cara que me atendeu, vendo que eu era Brasileiro, até se desculpou dizendo que tinha outro vendedor lá que falava português mas que ele não tinha ido trabalhar aquele dia.

Esse lance de telefone é um caṕítulo a parte. Bem ou mal, aqui existem muito mais razões pra você usar um smartphone como é o caso do G1. Não só planos de dados ilimitados via 3G são mais comuns, e mais baratos, como existem aplicações excepcionais pra plataforma – mapas, aplicativos que permitem a você achar o lugar onde um produto está sendo vendido ao seu redor (e o melhor preço) lendo seu código de barras, localizadores de restaurantes e outros com indicação de direção e compasso pra te ajudar a achar o lugar, e uma caralhada de outras coisas que parecem bestas mas que facilitam muito a vida só por estarem no celular (sem esquecer do normal, como web, Twitter Gtalk, MSN, etc). É pouca surpresa que tanta gente ande pela rua enquanto utiliza o celular, não para falar, mas para alguma outra coisa.

No geral o povo tem sido muito gente boa. Esse amigo meu tá sendo foda. Existem coisas que sempre vão causar estranhamento – tipo pegar o ônibus, já que você tem de pagar um valor baseado em onde vai descer, e só em moedas – mas é o tipo de coisa que depois que você passa pelo choque inicial, esquece. Ter de arranhar o inglês pra perguntar algo (que deve ser super óbvio) pra alguém dá uma certa humildade a qualquer um, mas sobrevive-se. Mas é legal ver que, por ser uma cidade que está no meio de tudo, é fácil de encontrar informações online.

Daqui a pouco vamos pra praia, e domingo vou assistir à final das copas das confederações – Brasil x EUA! – num bar com uma galera daqui. Essa terra não é tão estranha assim, afinal.