Restaurantes do dia-a-dia em NY

by Zeh on July 28, 2009

As pessoas gostam de dizer que São Paulo é a capital da gastronomia sabe-se lá de onde, mas pra quem gosta de comer, vou falar uma coisa: NY é o lugar.

Eu sou meio suspeito pra falar, já que não sou nenhum gourmet e não saí testando nenhum restaurante Francês, Italiano, Croata ou Indiano pra ver qual tem o melhor tempero, vinho ou seja o que for. Mas pra quem, como eu, gosta de comer qualquer coisa por aí, o lugar é animal. Em Manhattan, você dá dois passos e tropeça em algum lugar sensacional.

Em São Paulo existem lugares legais, lógico. Mas a impressão aqui é que qualquer lugar meia-boca que você acha já é equivalente ao melhor que você encontrava em São Paulo – especialmente verdade em relação a comidas urbanas tipo hamburgeres, saladas e sanduíches.

Da mesma forma, por algum motivo, praticamente todo lugar parece ser extremamente convidativo – como se fosse um restaurante de bairro, por mais que esteja no meio do burburinho de Manhattan. Acho que isso tem um pouco a ver com a cultura local e, por mais estranho que possa parecer, porque o público tende a ser avesso a cadeias de restaurantes conhecidos. Você encontra restaurantes pequenos, únicos, desconhecidos, e mesmo assim populares, em todo canto. Não é aquela coisa do cara montar um restaurante e falir só porque ninguém nunca ouviu falar da marca.

Com tantas e tão boas opções, é inevitável dar aquela impressão de que os Norte-Americanos são obesos porque têm tantas opções, etc e tal. Tem uma mítica. Mas a surpreendente verdade sobre Manhattan é que a coisa é exatamente o contrário; talvez pela qualidade da comida (muita salada, muito suco, pouco ou nenhum óleo ou gordura), e talvez pelo fato de que você tem de andar muito, a impressão é de que a população em geral é bem saudável. Acho que você encontra sim mais gente acima do peso ideal do que você encontraria em São Paulo, mas é uma diferença muito pequena.

Pessoalmente, eu ando comendo mais do que nunca desde que cheguei aqui. Mas, ao mesmo tempo, posso dizer que estou super saudável – com o mesmo peso de quando saí de São Paulo (72kg), e na verdade até um pouco abaixo – e andando pra caramba. Não digo “andando como nunca” porque eu sempre fui um cara chegado em caminhar, mas a cidade realmente te leva a andar demais (às vezes até sem que você perceba direito) e a subir e descer muitas escadas (praticamente nenhum metrô daqui tem escadas rolantes, por exemplo, ao contrário da imagem que geralmente fazemos dos gringos).

Falando sobre restaurantes específicos, e na categorias de boas surpresas, o Lenny’s é provavelmente o lugar que mais me surpreendeu. De certo modo, não é nada de mais – basicamente, uma cadeia de restaurantes que vende sanduíches e saladas, estilo o Subway. Mas o lugar faz alguns sanduíches realmente deliciosos, bem servidos e com um bom preço (a média aqui é gastar uns US$ 10,00 com almoço). Me apaixonei pelo lugar e vou lá sempre que posso.

E talvez a grande exceção que vai contra o que eu disse sobre cadeias, uma que é onipresente por aqui e ainda assim mantém uma boa qualidade é o Subway. Antes de chegar aqui eu tinha ouvido falar que existiam muitos Starbucks em Manhattan, mas a verdade é que vejo umas 4 vezes mais Subways do que Starbucks – realmente estão em todo canto, não só na cidade como no bairro. E, mais importante, fazem um sanduíche bem legal. Infelizmente fazem muitos anos que não vou nos Subways de São Paulo então fica difícil comparar, mas aqui a coisa é boa, bem fresca, e com a customização do sanduíche praticamente obrigatória (outra característica de muitos lugares por aqui).

Já hamburgeres são uma questão à parte. Talvez por ser um prato típico da região, todos os hamburgers de verdade que comi por aqui são pelo menos do mesmo nível que os melhores que comi em São Paulo (em lugares como Fifties, Fridays, Outback, etc). De certo modo porque muitas das cadeias que encontramos no Brasil também estão disponíveis aqui (a única que testei por enquanto foi o Applebees – equivalente ao Brasileiro), mas mesmo bares (Murphy & Gonzalez), lugares do “calçadão” de Coney Island (Nathan’s) e restaurantes especializados locais (Schnippers, Five Guys) têm hamburgeres sensacionais. Pra alguém que gosta de matar uma vaca por dia, a cidade é ótima.

Mas na questão de hamburgeres, a única exceção talvez fique com as cadeias de fast food mesmo. Pra quem não sabe, as cadeias conhecidas dos Brasileiros – McDonald’s, Burger King, etc – são vistos como lugares ruins de se comer por aqui. E com razão – de certo modo, eles geralmente miram em consumidores de baixa renda (são muito fáceis de se encontrar na periferia), e são mais mal-tratados do que seus equivalentes brazucas: não são todos, mas a grande maioria dos restaurantes é bem suja. Pra ser sincero, sair de um lugar mais aconchegante (como é a maioria dos restaurantes por aqui) e ir pra um ambiente extremamente plastificado como o de um fast food é uma sensação meio estranha. Chega a ser meio depressivo. E sendo sucinto, a impressão que dá é que quem trabalha lá é bem mal pago (além deles não terem funcionários suficientes pra atender à demanda, mesmo fora de horários de pico).

Por isso, e pela qualidade das alternativas, desde que cheguei aqui acabei não tendo vontade real de ir em nenhum fast food desse tipo – ao contrário do que eu esperava, pra ser sincero. No entanto, a bem da experiência, acabei abrindo uma exceção e fui num Burger King um dia desses. O resultado foi um hamburger ruim e sem gosto, bem pior do que o equivalente Brasileiro. Não acho que vou voltar lá tão cedo. E não chega a ser algo tão barato pra compensar.

Outro exemplo dessa característica local é minha experiência com o Arby’s. Eu adorava o Arby’s no Brasil e fiquei bem triste quando a cadeia se retirou do mercado Brasileiro – ninguém usa o rosbife fino (estilo Norte-Americano) como eles serviam. Antes de chegar em Nova York, me convenci que uma das primeiras coisas que faria seria ir num Arby’s pra comer novamente um dos hamburgeres de rosbife deles. Mas a verdade é que desde que cheguei acabei não indo em nenhum Arby’s – em parte porque temo que seja só outra cadeia de restaurantes ruim, em parte porque não tem nenhum restaurante da cadeia perto de onde trabalho e moro, e em parte porque o rosbife fino aqui é encontrado em todo lugar mesmo (os sanduíches mais populares do Subway e do Lenny’s levam o mesmo tipo de rosbife).

Pra quem gosta de saladas, o lugar também é ótimo. A maioria das cadeias que vendem sanduíches também trabalham com os mais diversos tipos de saladas, sejam saladas baseadas em templates pré-prontos ou customizadas na hora. E tudo parece bem fresco sim (no bom sentido). Se você gosta de decidir absolutamente tudo que vai em sua comida, a cidade é uma festa.

Restaurantes self-service (buffet), o estilo dominante de restaurante pra trabalhadores em São Paulo, são bem incomuns por aqui. Comi em um e achei a qualidade da comida razoável, mas obviamente diferente do esperado – nada daquela coisa Brasileira do tipo arroz/feijão/salada/carnes.

E também ao contrário do que eu esperava, aqui é mais incomum achar comida chinesa ou japonesa. Me disseram que até existem alguns, mas mais concentrados em certas regiões. Talvez uma bela exceção que vale a pena ser apontada seja o Inakaya, um restaurante de comida japonesa que fica no térreo do prédio do New York Times e é, definitivamente, o restaurante com o melhor design que já vi. O lugar realmente tem uma atmosfera incrível, principalmente à noite; austera, mas coisa de filme.

Não cheguei a experimentar o sushi daqui em nenhum restaurante japonês de verdade, no entanto. Mas de novo a bem da experiência, acabei comendo uma tábua um pote plástico de sushi num Amish Market (!) perto do meu trabalho. A montagem é meio diferente, e o tempero é mais apimentado (característica do sushi local, corroborada por amigos Brasileiros com base em outras experiências), mas no geral pareceu algo de suficiente qualidade.

Ainda tenho inúmeros outros lugares e categorias pra testar, principalmente em relação a massas e pizzas, mas os prognósticos não podiam ser melhores: gastronomicamente falando, NY é sensacional.