Papinho para inglês ouvir

by Zeh on July 29, 2009

Quando aprendemos inglês numa escola, dificilmente aprendemos as palavras realmente comuns, do cotidiano. Pode parecer estranho, mas a verdade é que o vocabulário do papinho do dia-a-dia é tão efêmero, e tão dependente da localização, que é impossível pra qualquer curso passar uma experiência real de conversação. Você aprende que lata de lixo é trash can, porque esse é o termo genérico (e que está no desktop do computador de todo mundo), mas aí você vai conversar com alguém, fala trash can e a pessoa te olha de um jeito estranho porque na verdade o que você deveria ter falado é litter basket (Nova York, depende do contexto), lit bin (Austrália), ou alguma outra coisa.

Obviamente, o mesmo acontece com o português – as mesmas palavras têm significados diferentes, e as mesmas coisas têm nomes diferentes. Paneleiro no Brasil é cada que vende panelas; em Portugal, seria o equivalente a bicha. Em Portugal, você não usa um mouse e um monitor no seu computador, e sim um ratinho e um ecrã. As pastas ou diretórios do seu micro? Ficheiros.

Existem diferenças locais até: grelha, em São Paulo, é “um utensílio culinário utilizado para assar ao fogo ou na brasa diferentes tipos de carnes e vegetais” (valeu Wikipédia), mas em alguns estados do Brasil (não lembro quais) e em Portugal (novamente), quer dizer largada (aparentemente uma transliteração de grid). Ou um exemplo pior, farol. Farol em São Paulo é o mesmo que semáforo. Mas nunca diga pra um Carioca em São Paulo “virar à esquerda no farol”. Ele vai sair andando a esmo até chegar no litoral, provavelmente pegar um barco e aí finalmente virar à esquerda no farol.

O resultado dessa salada é que usar uma língua no dia-a-dia acaba sendo, em parte, mais difícil do que usá-la mais formalmente. Essa é mais ou menos a história do meu aprendizado do inglês: como acabei aprendendo muito através da leitura de livros, tenho um bom vocabulário e tal, mas quando chega na hora do chit chat, a coisa fica braba. Consigo escrever um trabalho acadêmico mas na hora de trocar idéia com alguém, emperro nas coisas mais bobas.

Isso rende alguns momentos engraçados até eu descobrir o nome correto das coisas por aqui.

Eu recentemente aluguei um apartamento, e precisava medir a largura dos cômodos pra poder comprar móveis que coubessem dentro do espaço disponível. Então hoje fui comprar uma fita métrica (ou trena, ou metro) pra medir as distâncias, só que eu não sabia qual o nome do treco em inglês. O papo foi mais ou menos assim:

– Hi, I need to buy something… to measure distances… it’s like a tape, but with inch measurements… I don’t know the correct name.
– Oh, you want a measuring tape.

Vários dos nomes de coisas por aqui são assim, bem descritivos, óbvios, mas até você saber qual o correto, não dá pra se fazer entender sem uma longa explicação.

Talvez nós que tenhamos muitos nomes em português (de onde vem “trena”?) e isso acaba provocando um choque, mas é comum eu perguntar pra amigos meus como se chama algo, só pra descobrir que não tem um nome específico. Por exemplo, eu queria descobrir qual o nome local para box (aquele vidro do banheiro que fica em volta do chuveiro) já que queria poder falar sobre isso na hora de alugar um apartamento. Fui perguntar pra um amigo (nativo) esses dias via MSN:

<zeh> also, what’s the name for that glass wall people have on bathrooms around the shower area?
<don> no name.
<don> just a shower door.
<don> or glass shower door

Ou, pior ainda, quando perguntei pro mesmo cara qual era o nome dado aos vidros laterais do carro. Disse pra ele que nós chamávamos aquilo de glass (vidro).

A resposta? Window.

É díficil não se sentir uma anta às vezes.