Enquanto isso, na cidade de Townsville, acabou a tinta da impressora

by Zeh on April 19, 2009

Eu sou uma merda pra escrever. Principalmente pra escrever emails. Não que eu escreva tão mal assim, mas é que eu escrevo demais.

Quando eu era mais novo, a única matéria que eu realmente gostava na escola – e a única matéria onde eu me dava bem – era Redação. Eu adorava escrever redações. A professora chegava pra sala e dizia que tínhamos de entregar uma redação com 35 linhas pro dia seguinte, e a sala inteira gemia, resignada. No dia seguinte, a maioria da sala entregava uma redação com exatas 35 linhas. Eu entregava uma de 100 ou algo próximo disso; lembro que meu máximo foi umas 150 linhas. Duas professoras diferentes chegaram a pedir à minha mãe, em reuniões de pais e mestres, pra ela parar de me ajudar nas redações. Elas achavam que minha mãe que escrevia as redações. O detalhe é que minha mãe nem sabia quando eu escrevia redações – ela não tinha nada a ver com a história. Elas não deviam ser os melhores textos do mundo, imagino, mas eram longas. Enfim, sempre gostei de escrever.

O problema piorou na época que comecei a acessar BBSs e mandar mensagens que iam levar quase uma semana pra chegar ao destinatário. Por algum motivo, foi quando comecei a escrever melhor, mas também quando peguei o costume de escrever mais no computador.

Mas a questão é que escrever muito não é um negócio muito bom. Ninguém gosta de textos longos. Todo mundo tem preguiça de ler, e ninguém quer receber um email verborrágico que descreve algo nos mínimos detalhes. Quando acabo mandando emails assim, é comum as pessoas simplesmente pularem parte do texto. A pessoa responde e percebo que ela passou batido pela parte mais importante da mensagem. Aí eu tenho de responder com frases que começam com “como falei no email anterior, …”. Sabe aquela teoria de que a gente só lê o começo dos parágrafos em textos na Internet? Então. É verdade.

Mas quem me fez perceber mesmo a minha falta de habilidade em ser sucinto foi o Macaco Louco.

mojojojo-1

Macaco Louco (ou Mojo Jojo, no original em inglês) é um personagem do desenho animado Meninas Superpoderosas, do Cartoon Network. Principal antagonista da série, ele é um macaco cientista super inteligente cujos planos de dominação mundial (ou municipal) são sempre frustrados pelas três heroínas que dão nome ao desenho. E ele tem uma característica interessante: linhas de diálogo extremamente redundantes, onde ele repete diversas vezes a mesma informação, de formas ligeiramente diferentes. Suas frases são algo do tipo “Vou dominar o mundo, meninas, porque após derrotá-las, o mundo será dominado por mim, Macaco Louco, porque terei acabado de derrotá-las.”

Infelizmente não achei nenhum vídeo legal com a dublagem em português (que acho sensacional), mas o vídeo abaixo, no áudio original, dá uma idéia do ethos do personagem.

Uma coisa que comecei a reparar depois de ter entrado em contato com essa entidade é que realmente às vezes repito a mesma informação de formas ligeiramente diferentes. Digo que A é B porque B é A na esperança de que isso ajude o entendimento. Poder de síntese nulo.

É meio bizarro falar isso, mas foi só aí que comecei a mudar um pouco meu modo de escrever. Não quer dizer que eu realmente escreva melhor. Mas agora, pelo menos, acabo revisando meus textos depois de tê-los escritos pra ver o que dá pra ser enxugado. A faculdade ajudou bastante com isso também; textos enxugados geralmente são muito melhores pra serem lidos, e quando você fica um ano em cima do mesmo texto, tem tempo de sobra pra polir o que tá em excesso.

Nem sempre funciona. Escrevendo em fóruns, é comum eu perder um tempão descrevendo algo nos mínimos detalhes, mesmo quando acho que não tem nenhuma repetição de informações, e aí alguém vem e em 6 palavras diz tudo o que eu estava tentando dizer, mas de uma forma muito mais curta (e agradável).

Ou, pior, gastar um tempo escrevendo um texto imenso e aí chegar no final e ter a certeza de que ninguém vai ter tido a paciência de ler tudo que escrevi, já que a informação era tão inútil que poderia ter sido escrita num só parágrafo.