Aprendendo ActionScript 3
by Zeh on August 26, 2009
Esta semana, publico aqui o conteúdo de minha coluna de cartas do leitor, originalmente publicada nas páginas do Compêndio Anual Regulatório de Análise Linguística e Habilidades Outras. Reproduzido com permissão da editora.
Caro Sr. Zeh Fernando,
Eu quero criar websites Flash em ActionScript 3, mas não sei o que eles comem. Pode me ajudar?
Um abraço,
Leitor Assíduo
Caro Leitor Assíduo,
Muito pertinente sua dúvida. Essa é uma questão que sempre vem à tona nos círculos intelectuais dos criadores Flash, seja em palestras, mesas de discussão, mesas de bar, ou sarjetas pós-mesa de bar. A criação de sites Flash é algo difícil, e considerando-se a velocidade das mutações à qual o organismo desta plataforma tem passado nos últimos anos, as técnicas para criação e manutenção de websites em Flash estão também em constante mudança.
Para tentar elucidar as questões mais pertinentes e retratar o patamar atual desta parcela tão curiosa de nossa ecologia de interfaces, listo aqui algumas conclusões à qual cheguei após a observação da espécie, não só em cativeiro mas também em seu habitat natural. No entanto, seria difícil para mim discorrer aqui sobre todas as técnicas para criação de websites em ActionScript 3, considerando-se a complexidade do tema, então o que farei é listar algumas das soluções normalmente utilizadas para o aprendizado das tais técnicas. Um meta-ensino, por assim dizer.
Uma das primeiras alternativas para o aprendizado de ActionScript 3 que geralmente vem à mente de criadores amadores é o de utilizar cursos de Flash ou de ActionScript 3.
Talvez eu não seja a melhor pessoa indicada para falar disso – visto que nunca fiz nenhum curso de ActionScript, Flash ou de nenhuma outra linguagem de programação (com a exceção de algumas aulas de BASIC que tive na escola, quando ainda era um mero pimpolho de 10 anos, um programacultor em formação) – mas minha sincera opinião é de que cursos desse estilo não funcionam muito bem. Como a maioria das variantes das linguagens de programação orientadas a objeto, ActionScript 3 é um assunto de difícil assimilação e definitamente não é algo que se aprende em 6 meses, ou mesmo em um ano, a menos que o aspirante a programacultor ActionScript já tenha uma boa experiência com outras culturas de linguagem de programação.
Da mesma forma, cursos voltados a plataformas parecidas geralmente tentam atrair e manter o aluno através de resultados rápidos, o que nem sempre isto é a melhor opção. Existem diferentes formas de criar websites com ActionScript 3, e os melhores métodos a longo prazo são, geralmente, os que levam mais tempo para assimilação. Infelizmente, a grande maioria dos alunos quer ver seus botões em ActionScript 3 desabrochando e saltitantes com o mínimo tempo e esforço, sem se preocupar em aprender as melhores técnicas para seu semeio, ou sem explicar o porquê deles serem criados de uma forma e não de outra. Isso faz com que a longevidade de sua produção sofra, algo que só se percebe tarde demais.
Um último e controverso ponto é de que a maioria dos instrutores encontrados em escolas de programacultura não são exatamente os melhores criadores de websites em ActionScript 3. Infelizmente, instrutores são só isso, instrutores, geralmente pagos para ensinar o semeio de diferentes culturas ao mesmo tempo, sem nunca se focar no cultivo de uma plataforma específica. Isso quer dizer que eles são treinados para passar o conteúdo de uma apostila previamente planejada com louvor, mas possuem limites em seu conhecimento – resultando num discurso bem linear e unilateral. Questões oriundas de uma mente em aprendizado inquisitiva poderão ficar sem resposta. Pior, seu conhecimento é frequentemente datado, especialmente quando pensamos numa cultura em mutação constante como a de ActionScript.
Minha conclusão nesse sentido é de que, para quem gosta de um aprendizado coletivo, em grupos, um curso pode ser uma boa porta de entrada ao mundo da programacultura para Flash. No entanto, provavelmente não é o caminho ideal para se seguir. Não recomendo gastar muito dinheiro nisso.
Outra alternativa é através de publicações. Nessa área, felizmente, a programacultura ActionScript 3 está muito bem servida, já que existe uma boa quantidade de de material didático existente.
E perceba que quando falo de material didático, quero dizer livros, não apostilas. Apostilas é coisa de quem quer fazer cursinho e não tem paciência pra estudar, quem quer plantar e não quer esperar a planta crescer, quem quer adubar e sentir cheiro de flores, quem quer aprender kung-fu sem levantar a bunda da cadeira. Apostilas são um mito.
A principal recomendação literária de minha parte é ler, de cabo a rabo, o último livro do Colin Moock – atualmente, Essential Actionscript 3.0. Este livro contém todo tipo de informação que os criadores de sites em Flash precisam saber para um cultivo proveitoso, não só para programacultores experientes como também para iniciantes (embora seja uma leitura mais demorada). É realmente leitura obrigatória, inclusive a cada nova versão escrita.
Uma boa leitura complementar é o ActionScript 3.0 Cookbook, que ensina diversas técnicas bastante práticas para o semeio de ActionScript – não só técnicas que podem ser usados no dia-a-dia em sua criação, mas que lhe ensinarão a ser um melhor programacultor.
Existem algumas leituras complementares avançadas, mas talvez fuja um pouco do escopo deste artigo, já que programacultores experientes provavelmente não precisarão de minhas dicas para irem atrás do que precisam. No entanto, em prol da ilustração, cito em especial o ActionScript 3.0 Design Patterns, que ensina aos criadores a melhor maneira de dispor sua horta de forma a conseguir o melhor aproveitamento possível do solo e por consequência o melhor semeio a curto e longo prazos.
E, finalmente, gostaria de encerrar esta coluna com uma constatação do óbvio: nada substitui a prática. A criação com sucesso de sites em Flash é algo que requer tempo, paciência, e um pouquinho de amor. Portanto, não existem atalhos. A minha recomendação final é simplesmente tentar, errar, e fazer algo de diversas formas diferentes, até acertar. Por mais incrível que possa soar, criação orientada a objetos não é uma ciência exata, e requer um certo tempo até todos acertarmos a mão. Comece aos poucos, mantenha o foco, que a coisa vem naturalmente.