Algo entre formiga e sardinhas

by Zeh on September 30, 2009

São Paulo é uma cidade lotada. Acho que nossos governantes perceberam isso: eu costumo dizer que o único papel dos governos municipal e estadual de São Paulo é tornar a cidade tão insuportável para todos que as pessoas vão querer se mudar para outro lugar (resolvendo, assim, o problema da lotação). No meu caso, eles conseguiram, mas é triste ver que nem por isso o declínio do conforto está em vias de parar (se é que dá pra chamar o aperto de um metrô ou ônibus e a velocidade média de 15km/h nas principais vias de “conforto”).

Fiquei sabendo através de websites da recente e malfadada tentativa de pôr ordem no metrô, e é interessante pensar como a coisa se compara ao metrô de NY.

O metrô de São Paulo é muito melhor que o metrô de Nova York. As estações são muito mais limpas. É tudo muito mais bonito, mais espaçoso, e mais bem conservado. Tudo parece muito novo. Os trens são rápidos, grandes, com número de portas e vagões padronizados, ótima distribuição interna das barras de suporte para os usuários, e os pontos de parada são bem distantes entre si, permitindo o máximo de velocidade e eficiência no transporte. As estações têm identidade visual muito bem definida, embora nem sempre completamente idênticas, e são, no geral, bastante seguras. O sistema, no geral, é muito novo e avançado – coisa de dar orgulho.

Ao mesmo tempo, o metrô de Nova York é muito melhor que o metrô de São Paulo. O metrô está em todo o canto – existem inúmeras linhas que cobrem a cidade e seus arredores de forma bastante eficaz. Ele funciona 24 horas por dia – você nunca precisa usar carro, e nunca sai de casa precisando se preocupar em voltar até um horário máximo. A cidade possui uma concentração enorme de pessoas, mas ainda assim, independente do horário, sempre tem bastante espaço dentro do vagão.

É uma comparação estranha. São Paulo tem tudo para ter o melhor sistema, mas acaba ficando devendo no que realmente importa – cobertura e padrões mínimos de conforto.

Obviamente, tudo se resume na quantidade de vias. Com seus 61 km de vias que vão do ponto A ao ponto B com 2 gargalos horríveis no meio do caminho, é uma difícil comparação ao sistema velho, sujo, mal feito e caótico de Nova York, onde os 369 km disponíveis fazem toda a diferença.

Quando aluguei meu novo apartamento por aqui e me mudei pro meu bairro, amigos meus me avisaram que eu poderia pegar o metrô lotado de manhã, pra ir trabalhar, já que existe um certo gargalo naquela região. O resultado? O pior que acontece é eu pegar um metrô onde não posso ler meu livro em pé com muito espaço. Às vezes até acontece de passar um trem lotado que não estou a fim de pegar, porque já me acostumei a um certo nível de conforto, mas logo após sempre passa um mais vazio. No geral, acabo demorando 30 minutos pra chegar no escritório, todo dia.

Quando alguém por aqui me diz que o metrô está lotado, dou risada.

Isso porque, em São Paulo, eu desfrutava do luxo de morar do lado do metrô Belém, na Zona Leste. Resultado? Eu nunca pegava o metrô pra ir pra lugar nenhum de manhã, já que tal tarefa era impossível devido à superlotação. Se precisasse ir trabalhar, pegava um ônibus. O metrô era bastante conveniente nos finais-de-semana, se quisesse ir pro centro, mas em qualquer outro caso, era completamente inútil.

Nova York já foi escrava do carro, há décadas atrás, mas numa turbulenta mini-revolução acordou desse devaneio e hoje é escrava do pedestre. São Paulo, ao contrário, ainda faz de conta que automóvel é o meio de transporte urbano ideal. E enquanto o governo finge que faz alguma coisa e os Paulistanos fazem de conta que acreditam enquanto compram carros maiores e mais potentes para andar cada vez mais devagar, ou acreditam em projetos inócuos superfaturados, a rotina na cidade vai ficando cada vez mais difícil de suportar.