A cidade ideal

by Zeh on August 21, 2009

A cidade ideal teria suas ruas divididas em retângulos, como em Nova York. Quer ir pro norte? É só pegar uma rua que vai pro norte. Não precisa se preocupar com curvas sinuosas que te fazem sair do caminho.

Da mesma forma, a cidade também teria avenidas e ruas com nomes numéricos, em sequência – do norte pro sul, e do leste pro oeste (ou vice-versa). Quer ir da oitava avenida pra sexta avenida? Dois quarteirões na direção leste. Não sabe onde é a 50a rua, nunca ouviu falar? Fica depois da 49a, é lógico.

E ainda obedecendo ao grid, as ruas e avenidas teriam mãos previsíveis: pares vão numa direção, ímpares em outra. Não precisa circular 10 quarteirões só porque você quer entrar numa rua de mão única e não consegue nenhum ponto de acesso.

Já os prédios, casas, lojas e demais logradouros seriam numerados de acordo com sua distância até o início da rua, em metros, como em São Paulo. Fica fácil de saber a distância de um ponto a outro. Quer ir da altura do número 120 até o número 500? São 380 metros.

Essa cidade teria um metrô 24 horas, que percorre praticamente a cidade toda, incluindo os pontos mais remotos, como em Nova York. E os metrôs teriam linhas expressas, que pulam algumas estações, pra quem quer ir rapidamente pra algum canto. Não só isso, mas diversos pontos de transferência e integração entre linhas. E, desnecessário citar, os trens seriam pouco lotados, mas ainda assim teriam um ar-condicionado bem eficiente.

Mas os metrôs seriam rápidos, limpos e bem-conservados, como em São Paulo. Além disso, você não teria entradas extremamente específicas, que te obrigam a sair, atravessar a rua, e pagar outro bilhete se você tiver entrado, sem querer, na plataforma da direção errada – os pontos de entrada e saída seriam unificados.

As estações de metrô teriam máquinas de compra de bilhetes que aceitariam cartão de crédito, débito, notas, ou moedas, permitindo a qualquer um adquirir um bilhete – ou colocar créditos em seu bilhete recarregável – de forma rápida e, geralmente, sem filas. Como em Nova York. As catracas para entrada seriam inúmeras, como em São Paulo, e com catracas específicas para entrada ou saída, para evitar confusões de catracas que servem aos dois propósitos.

Como em Nova York, você não precisaria de carro para nada. Seria muito mais fácil, rápido, e barato, chegar de metrô em qualquer lugar. O trânsito seria um problema menor, senão inexistente. A cidade seria escrava do pedestre, não do automóvel. E as bicicletas seriam extremamente práticas.

Toda esquina da cidade ideal teria uma lata de lixo de verdade, e toda residência teria coleta de lixo reciclável, como em Nova York. Mas as calçadas e ruas pareceriam mais limpas, assim como, incrivelmente, São Paulo (ou partes de São Paulo).

Na cidade ideal, os caixas eletrônicos dos bancos permitiriam depósitos em dinheiro ou cheque sem a necessidade de envelopes especiais ou do preenchimento de qualquer outra coisa. Como em Nova York, elas leriam os valores das notas, e os valores dos cheques, e permitiriam a você conferir o depósito antes de efetuá-lo. Os caixas seriam limpos e bem conservados, como em São Paulo.

Os parques seriam limpos, confortáveis, e convidativos, sem terem sido dominados por moradores de rua, drogados, trombadinhas ou outros seres estranhos. Crianças brincariam felizes nos parques das áreas mais residenciais, e os mesmos também teriam específicas para donos de cachorros deixarem seus melhores abrigos brincarem e correrem, assim como se vê em Nova York.

Da mesma forma que em Nova York, as cervejas encontradas nos bares seriam inúmeras, sem o domínio de uma ou outra marca. E com sabores e texturas das mais distintos, ao invés de poucas variações do mesmo tipo de cerveja. Mas você poderia beber na rua, como em São Paulo.

O churrasco da cidade ideal seria como em São Paulo, ou outras partes do sul do Brasil – regado a muita carne, muito sal, e churrasqueiras exclusivamente de carvão. Mas o hambúrger ou o sanduíche encontrados em qualquer esquina seriam como seus equivalentes de Nova York – bem servidos, e dos tipos e sabores mais variados.

As garotas da cidade ideal seriam tão bonitas – e usariam roupas tão sensuais – quanto as de São Paulo (ou de qualquer outra cidade brasileira). Mas teriam histórias de vida, origens e experiências tão variadas quanto as que você encontra nas garotas de Nova York.

Para ser realista, o aluguel de alguma casa ou apartamento na cidade ideal seria tão barato quanto o aluguel médio de São Paulo. As residências também seriam tão espaçosas quanto as que você geralmente encontra lá. Mas, ao mesmo tempo, seria muito mais rápido de chegar em qualquer lugar, como em Nova York – morar na periferia seria algo comum. Toda a idéia de periferia seria algo difícil de entender, no entanto, já que o contraste entre áreas não seria mais tão grande.

A cidade ideal seria uma cidade extremamente urbanizada em seu núcleo. Com lojas para tudo, e áreas mais ou menos especializadas num determinado tipo de comércio. Com em São Paulo ou, especialmente, Nova York. Com áreas de lazer e relaxamento – praias e parques – a dois passos de distância, como em Nova York, mas com praias tão boas quanto as do Brasil.

A cidade ideal seria perfeita.

Mas talvez aí já não teria mais tanta graça.