Promessa de pão e circo, versão 2010

by Zeh on August 24, 2010

Em 3 de outubro, serão realizadas as próximas eleições gerais no Brasil para a escolha do novo presidente, governadores, senadores e deputados. Será minha primeira eleição fora do país, e admito que pouco sei sobre os atuais candidatos (pra não falar no processo de voto no exterior).

Talvez seja essa distância que me fez ficar surpreso com coisas como a candidatura de Tiririca a um posto como deputado federal, bem como suas respostas, digamos, honestas às perguntas feitas pelo repórter.

Mas quando volto no tempo e lembro da última eleição – a primeira eleição da era YouTube, quando era frequente visitar o site para ver as propagandas eleitorais mais ridículas dos candidatos a vereador – percebo que, na realidade, nada mudou: candidatos ainda buscam chamar a atenção mais do que apresentar alguma massa encefálica funcional, algum plano concreto, ou algum mínimo conhecimento do que seu país ou estado precisa.

Essa entrevista do Tiririca é um belo exemplo do que há pior em nossa política: um candidato sem plano algum, sem conhecimento algum de qualquer coisa, sendo provavelmente manipulado, vestindo um manto de boas intenções e achando que só isso faz tudo valer a pena, pensando que vai acabar com algum problema que ele nem sabe o que é através de decreto.

Às vezes, penso que é esse tipo de acontecimento que vai despertar o eleitor mais desligado; que é isso que vai fazer as pessoas acordarem e perceberem que vão ter de escolher um bom candidato, e que do jeito que está não pode continuar. Chego a pensar que a Internet e a facilidade de acesso à informação é o que vai fazer o país ir pra frente politicamente, a amadurecer e votar com consciência.

Mas é aí que me lembro de uma anedota que marcou minha vida.

Quando eu tinha uns 18 anos, como todo Brasileiro, tive de me alistar no exército Brasileiro. Fui então ao quartel mais próximo de minha casa pra começar o processo. Nessa primeira (de muitas) visitas que tive de fazer a uma guarnição do exército, fui instruído a me dirigir – junto com inúmeros outros jovens – ao pátio do quartel e lá aguardar.

Depois de algumas horas, com o pátio já repleto de jovens de 18 anos (calculo umas 500 pessoas), oficiais do exército começaram a chamar os candidatos para uma triagem inicial. Eles não chamaram por nomes; ao contrário, fizeram uma filtragem por nível de escolaridade, já que eles geralmente mandam os candidatos com maior nível escolar para o CPOR.

A primeira coisa que o oficial encarregado de chamar os candidatos fez foi chamar candidatos que faziam faculdade. Um candidato levantou a mão, e foi instruído a criar uma fila separada.

Logo após, o oficial chamou candidatos que estavam prestando vestibular. Umas 2 pessoas levantaram a mão, e foram instruídas a se juntarem à nova fila.

Em seguida, o oficial chamou os candidatos que tinham concluído o segundo grau (meu caso). Cerca de 6 pessoas levantaram a mão, e foram também instruídas a se juntarem à nova fila.

O oficial então chamou os candidatos que estavam no último ano do segundo grau, instruindo-os a se juntarem à fila, e assim sucessivamente, até que a fila – ordenada pelo nível escolar do candidato – estava com um bom tamanho. O oficial parou de chamar novos recrutas após pedir candidatos com a quinta série do primário concluída.

75% dos candidatos ainda estava no pátio, esperando ser chamado. Todos haviam parado de estudar na quarta série, ou inferior.

Cercados pelo nosso mundo de computadores, celulares, Twitter, Facebook e o escambal, é fácil pra gente esquecer de uma coisa: o Brasil não é um país que prima pela igualdade social. Existe um enorme contraste em como a população vive, e no nível educacional de cada cidadão, mesmo em São Paulo. O voto é obrigatório para todos, mas um décimo da população não sabe ler ou escrever, e aproximadamente 60% sequer tem acesso à Internet. E eu achando que todo mundo iria usar algum bom guia de candidatos disponível e um pouco de pesquisa no Google pra escolher o melhor candidato. Ledo engano.

O resultado disso é que, quando chega uma eleição, não tem muito o que fazer. Não é mandando spam ou fazendo post em blog que a coisa vai ser sanada ou que as pessoas vão resolver votar com consciência. A grande maioria da população vai decidir em quem votar baseado em quem faz a propaganda mais engraçada na TV, ou em quem faz mais propaganda (ilegal) no dia da eleição – e esse é todo o acesso que eles terão aos políticos.

O primeiro problema do Brasil não é a política, não é a economia. É a educação. Fruto da influência cultural, de problemas gerados há décadas atrás, das capitanias hereditárias, da escravidão, ou de qualquer outro fator, já não importa; o problema está aqui e não vai embora sozinho. E enquanto isso não for arrumado, vamos continuar elegendo imbecis só porque eles são conhecidos ou personagens que chamam a atenção, gente que mente no currículo e fica impune, ou qualquer outro que rouba mas faz.

Vou votar como fiz antes: escolhendo meu candidato – usando o Google e outros guias – e deixando o nome e o número anotado pra checar depois se ele ou ela fez um bom serviço. Mas já deixei de esperar que a maioria da população faça o mesmo.

Outros se fazem de palhaço, mas quem leva a torta na cara é a gente.

Sei que você não vai ler isso, mas parabéns, Brasil. A merda só tá ficando mais profunda.