No meu tempo, tínhamos de caminhar 10km debaixo de neve pra fazer um download
by Zeh on May 10, 2009
Vídeo véio, mas vale a pena – Did you know?
(Fonte: Mashable)
Uma coisa que sempre me vem à mente mas que evito falar muito pra não dar a impressão de que sou o velho chato é de como as coisas mudaram nos últimos 15 anos. Tenho de me segurar pra não começar uma frase com “no meu tempo…”. Não porque sou velho demais, espero, mas porque as coisas mudaram rápido demais, e porque comecei a usar a Internet no comecinho da exploração comercial no Brasil, então fica fácil de comparar algumas coisas.
Acho que comecei a usar a Internet (de verdade, sem contar email e newsgroups, que já eram fáceis antes através de BBSs) em 1995 mais ou menos. A primeira coisa que me lembro de ter feito é procurado a letra da música Killing in the Name, do Rage Against The Machine. Essa era a música mais conhecida da banda, mas também a única música cuja letra não vinha incluída no disco (disco!) que eu tinha deles. Meus conhecimentos de inglês na época não eram suficientes pra entender exatamente o que a música dizia, então estava procurando pela letra há tempos.
Nessa época não existiam bons indexadores de conteúdo dinâmico (como o Google é hoje), só mecanismos de busca que procuravam em listas pré-determinadas de páginas, que tinham de ser cadastradas (cadastradas!) no site pelos próprios autores. Mesmo assim, utilizei o Yahoo (Yahoo!), que era o rei da busca na época, e 15 minutos depois estava com a letra da música impressa. Fiquei felizão.
Hoje achar uma letra de música é a coisa mais fácil do mundo. Pior, achar o videoclipe da música costuma ser tão fácil quanto.
Outro exemplo meio relacionado: um dia, assistindo MTV, vi um videoclipe que achei fantástico. Era uma paródia de uma outra música bastante conhecida. Realmente pirei e queria saber mais sobre a banda – a única coisa que eu sabia era seu nome, que apareceu brevemente no final do vídeo. A solução que encontrei? Mandar um fax (fax!) pra MTV pedindo mais informações sobre a banda, e sua discografia. Nunca me responderam. Só muito tempo depois fiquei sabendo de quem se tratava a banda.
Hoje, levei poucos segundos pra encontrar o tal videoclipe no YouTube. A música era Bedrock Anthem, do Weird Al Yankovic – uma paródia de Under The Bridge Give it Away, do Red Hot Chili Peppers.
E não precisei mandar nenhum fax pra conseguir as informações que postei no parágrafo acima.
E uma última comparação. Nessa mesma época, procurar por alguma informação significava ir na biblioteca (biblioteca!) ou procurar numa enciclopédia (enciclopédia!), algo que toda família costumava ter em seu lar.
Lembro de um exemplo em particular: desde a sexta série do primeiro grau, peguei o costume de fazer um origami específico sempre que fosse a algum lugar diferente, tipo um bar, e deixar a dobradura de lembrança no lugar. Uma coisa assim meio inspirada em Blade Runner. Nessa mesma época em que comecei a usar a Internet, meus amigos na época já estavam cansados de me ver fazendo o mesmo origami toda hora, então decidi aprender a fazer alguns outros. O que fiz? Fui na biblioteca pública que ficava do lado do meu trampo, procurei sobre origami – o lugar tinha uns 2 livros sobre o assunto – e fiquei uma hora lendo os livros e praticando algumas das dobraduras. Não quis levar os livros de lá porque teria de criar cadastro, e esperar alguns dias pra minha carteirinha ficar pronta.
Voltei pro trabalho e procurei por “origami” online. Acabei achando a página do Joseph Wu, com inúmeras instruções pra montagem de origami, todas disponíveis gratuitamente (e obviamente, as opções de sites sobre o assunto hoje é muito maior).
Não quero ficar escrevendo bobeira muito óbvia aqui, mas por um lado eu acho que sou meio sortudo de poder olhar pra trás e colocar em perspectiva o quanto algumas mudanças recentes tiveram um impacto nas nossas vidas. Acho que pra quem já tinha Internet quando começou a se considerar como gente, fica difícil de ver o quanto as coisas mudaram. Não que fossem piores na época, porque afinal não existia nenhum outro quadro de referência pra comparação, mas o quanto eram mais lentas. A gente fica tão envolvido no contexto atual que esquece o quanto tudo mudou, e acho que é uma coisa que o vídeo acima passa legal.
E olhando mais pro presente, tem uma expressão em inglês que acho fantástica e que acho que não tem tradução pra português. É “take for granted“. A tradução literal mais próxima seria algo como “aceito sem questionamentos”. Na prática, a expressão significa que você considera algo como óbvio, assumido, certo – que você tem certeza de que terá algo disponível quando você precisar, então o impacto da sua presença não é mais sentido.
Essa expressão funciona bem pra explicar porque everything is amazing right now, and nobody is happy, algo que o vídeo abaixo mostra muito bem também.
(Fonte: The Technium)
E não me chamem de velho, tenho só 31. Uma criança.