Aos mestres, com carinho

by Zeh on June 6, 2009

Hoje foi a última aula da oficina de Flash Lite 3.0 que dei no Senac São Paulo (a quem estiver curioso, o conteúdo ensinado está aqui, e os arquivos usados e criados estão aqui).

Não sou professor, mas como andei dando alguns desses cursos livres (gratuitos, abertos pra alunos de graduação de Design de Interfaces, contando como atividade complementar) e como acho que vai demorar muito tempo até eu repetir a experiência, achei que seria legal falar um pouco do negócio aqui.

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Comecei a dar essas aulas em 2007, com uma oficina de Flash Lite 2.1 pra minha própria sala, não só para difundir um certo conhecimento que eu tinha, mas também pra contar como horas de atividade complementar tanto para mim como para minha sala (precisávamos disso de acordo com o currículo do curso). Depois da primeira, acabei dando outras oficinas de Flash e Processing também pra minha sala, e esta última, de Flash Lite 3.0, para outro semestre do mesmo curso, cada uma com carga horária total entre 16 e 20 horas.

Para mim, uma das vantagens de dar essas aulas foi a oportunidade de aprender a expor melhor alguma informação. Nunca fui muito bom de explicações com o propósito de ensinar, e nunca tinha dado nenhum tipo de aula (na verdade, sempre tive um certo preconceito contra a prática), então acho que aprendi bastante nesse sentido – não só como elaborar o discurso do aprendizado e o roteiro de uma aula, mas até como falar melhor em público.

No entanto, uma coisa que eu não esperava muito bem – que eu não imaginava que seria tão diferente – é o quanto entendi da visão da sala e da rotina de cada aula a partir do ponto de vista de quem está lá na frente falando e explicando – do ponto de vista do professor.

E aí, neguinho, em verdade lhe digo, ser professor é treta.

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Uma das coisas mais difíceis de dar aula é preparar cada aula. Como é algo invisível pros alunos, é algo que pode passar despercebido, por isso acho que muita gente não leva em consideração. Mas, pelo menos no meu caso, eu tinha de passar horas preparando cada uma das aulas, bolando o roteiro do que seria passado e de que forma; eu gastava mais tempo pra planejar cada aula do que pra efetivamente dar a aula.

E nem é tanto uma coisa de conhecimento – de ser obrigado a pesquisar o assunto porque não o conhecia tão bem. É porque, por mais que você saiba um assunto, você precisa ter um roteiro decorado e testado pra poder dar uma aula real. Não dá pra sair improvisando; diferente de uma aula, quando você trabalha de verdade, criando algo pra você mesmo usando uma tecnologia qualquer, existem mil coisinhas que podem sair erradas, com erros de sintaxe ou seja o que for, mas que qualquer desenvolvedor pode resolver rapidamente. Já numa aula, isso causa uma quebra perigosa na linha de pensamento dos alunos, já que qualquer coisa fora do normal te força a parar e se concentrar em resolver o problema ao invés de continuar despejando o conhecimento.

Eu conheço muito de Flash, etc etc, afinal já trabalho com a plataforma há uma década; ainda assim, em determinados momentos, em aulas anteriores, tive de parar de falar e explicar algo porque tive algum resultado inesperado no que estava montando em tempo real como exemplo (geralmente, porque não tinha testado o roteiro de aula suficientemente e me deparei com algum problema inesperado na plataforma ou no programa). O foda é que nesses momentos eu tenho de reverter pro meu modo desenvolvedor e começar a depurar o que tinha dado de errado, e só aí virar e explicar pra sala o que aconteceu. É uma coisa bem chata e quando isso acontece deve dar ao aluno a impressão de que o professor é meio retardado e não sabe do que está falando. Sei que já tive momentos parecidos assistindo a aulas de outros professores, e agora entendo um pouco melhor o lado deles.

E outra coisa que pude sentir na pele é que muitas vezes os alunos não tratam o professor como gente, mas sim como alguém que está lá realizando um serviço opcional, que ninguém tem a obrigação de gostar ou aceitar.

Espero que nesse sentido ninguém me entenda mal, até porque todas as turmas pra quem dei aula foram super legais e só tenho a agradecer pelo tempo que me aturaram. Mas o que quero dizer é que quando você está lá na frente, é muito fácil se sentir meio frustrado quando você olha pra sala e percebe que só metade está ouvindo o que você está falando (o resto escrevendo no MSN/lendo email/falando com colega/vendo vídeo), ou quando você olha pra lista de presença e percebe que só metade da turma compareceu, como se o tempo que você perdeu pra preparar a aula fosse inútil e não compensasse o tempo que o aluno gastaria assistindo-a. É algo que eu mesmo também sou culpado de quando era aluno, e algo que só saquei de verdade quando também fiquei em pé lá na frente ficando com a boca seca de tanto falar.

Professor também é gente. Então, a meus professores, o meu muito obrigado.